Microcontos I
Ele plantou uma árvore, escreveu um livro e tem um filho. Pensou: “Já posso morrer”. Mas ele não morre.
Ele era apaixonado por ela. Ela, ele não sabia. Talvez. Tentava capturar alguma coisa por meio de seu olhar. Um dia, quando a olhava, a viu montando numa motocicleta e sumiu.
Tinha como sonho conhecer Roma e Israel. Juntou dinheiro e viajou. Conheceu Roma. Conheceu Israel. Voltou para casa e dormiu.
Estava dispersa e não viu seu ponto de ônibus. Gritou: Pare! O motorista só parou no outro ponto. Desceu praguejando. A raiva não diminuiu. Se viu em lugar deserto. A raiva virou medo. Subiu correndo a passarela. Uma moto passou-lhe de fininho. Do outro lado correu até avistar seu pai. O medo passou. A raiva voltou.
Estava ainda distante, mas sua cachorra já latia. Ninguém o esperava, só a cachorra. As pessoas seguiam suas rotinas, mas a cachorra atenta. Ela já bolava o que faria quando ele virasse a esquina de sua rua. Ele chegou ao portão em meio a indiferença do mundo, mas enlaçado pelos afagos dela.
Papa, cardeais, patriarcas, bispos, padres, diáconos e o gado. E Jesus do lado de fora implorando atenção.
Foi o melhor aluno da classe. Passou em primeiro lugar numa renomada faculdade de direito. Foi bacharel, mestre e doutor. Hoje é juiz. Seu mérito o cegou na tribuna, mas seus olhos estão abertos e perplexos no mundo real.
O caixão estava pesado. Ângelo era obeso. Lá do fundo do caixão ele ouvia: “Foi o coração”, “Foi o fígado”, “Era um sedentário”, “Era ingênuo”, “Comia demais”, “Corria demais”. Pela primeira vez se sentia leve, pois a alma não lhe pesava mais.
Quanto custa? Mil-duzentos-e-cinquenta-reais. E esse? Novecentos-e-oitenta-e-sete-reais. Esse? Seiscentos-e-quarenta-e-oito-reais. Parcela? Sim, em doze-vezes-sem-juros. Dá desconto? Sim, somente à vista-e-no-cash. E pra que serve?
Tem noites como essa que não durmo. Vou até a cozinha. Abro a geladeira. Pego o leite. Um pedaço de bolo. Sento na varanda e olho as estrelas. A insônia sempre me leva a Deus.
Ele plantou uma árvore, escreveu um livro e tem um filho. Pensou: “Já posso morrer”. Mas ele não morre.
Ele era apaixonado por ela. Ela, ele não sabia. Talvez. Tentava capturar alguma coisa por meio de seu olhar. Um dia, quando a olhava, a viu montando numa motocicleta e sumiu.
Tinha como sonho conhecer Roma e Israel. Juntou dinheiro e viajou. Conheceu Roma. Conheceu Israel. Voltou para casa e dormiu.
Estava dispersa e não viu seu ponto de ônibus. Gritou: Pare! O motorista só parou no outro ponto. Desceu praguejando. A raiva não diminuiu. Se viu em lugar deserto. A raiva virou medo. Subiu correndo a passarela. Uma moto passou-lhe de fininho. Do outro lado correu até avistar seu pai. O medo passou. A raiva voltou.
Estava ainda distante, mas sua cachorra já latia. Ninguém o esperava, só a cachorra. As pessoas seguiam suas rotinas, mas a cachorra atenta. Ela já bolava o que faria quando ele virasse a esquina de sua rua. Ele chegou ao portão em meio a indiferença do mundo, mas enlaçado pelos afagos dela.
Papa, cardeais, patriarcas, bispos, padres, diáconos e o gado. E Jesus do lado de fora implorando atenção.
Foi o melhor aluno da classe. Passou em primeiro lugar numa renomada faculdade de direito. Foi bacharel, mestre e doutor. Hoje é juiz. Seu mérito o cegou na tribuna, mas seus olhos estão abertos e perplexos no mundo real.
O caixão estava pesado. Ângelo era obeso. Lá do fundo do caixão ele ouvia: “Foi o coração”, “Foi o fígado”, “Era um sedentário”, “Era ingênuo”, “Comia demais”, “Corria demais”. Pela primeira vez se sentia leve, pois a alma não lhe pesava mais.
Quanto custa? Mil-duzentos-e-cinquenta-reais. E esse? Novecentos-e-oitenta-e-sete-reais. Esse? Seiscentos-e-quarenta-e-oito-reais. Parcela? Sim, em doze-vezes-sem-juros. Dá desconto? Sim, somente à vista-e-no-cash. E pra que serve?
Tem noites como essa que não durmo. Vou até a cozinha. Abro a geladeira. Pego o leite. Um pedaço de bolo. Sento na varanda e olho as estrelas. A insônia sempre me leva a Deus.