Um cheiro de piscina (novembro de 2016)

Estava aquele dia à espera, sentado na lanchonete de comida libanesa do shopping, quando me senti tomado por um cheiro envolvente de piscina de clube. Não acho que as piscinas cheiram do mesmo jeito; acho que as piscinas de clube cheiram a alguma coisa mais marcante que as outras piscinas. O cheiro delas é mais doce que o próprio cloro.

Olhei ao meu redor e o lugar estava cheio de pessoas, a maioria adolescentes dispostos a uma azaração. Eu possivelmente era o único naquela ala da praça de alimentação com mais de trinta anos de idade. Vale a pena acrescentar que ninguém me azarava, e que compreendi com isso que o que a juventude busca mesmo é a juventude.

Cíntia, chuchuzinho, como sentia-me afeiçoado a você naquele instante. Saboreava uma esfirra e tomava um chope enquanto meu olhar se perdia à sua procura na multidão. Lembre-se de que combinamos nos encontrar às sete horas naquele lugar onde estava, mas cheguei meia hora mais cedo para tomar um chope e relaxar para você.

E o cheiro de piscina de clube me invadia, sem pedido de licença. Neste dia eu me perguntei se não gostava de piscina de clube porque não gostava de clube. Como fui uma criança franzina que sempre brincava sozinho no clube, desenvolvi essa sensibilidade em relação às piscinas de clube. Sentia de longe seu cheiro inconfundível!

Piscinas de clube me remetem também à solidão, mas nunca me senti sozinho a seu lado, chuchuzinho; longe de mim culpá-la por um gesto sequer de abandono. Nunca senti-me tão amado como sou amado por você. O cheiro de piscina de clube não poderia jamais condená-la porque nada tem a ver com você. Mas... por que então essa inferno?

O cloro tem a qualidade de manter nossas peles cheirando a limpeza. Se não fosse o cloro das piscinas, poderíamos sentir o cheiro pouco nobre do xixi. É uma experiência única experimentar um banho de piscina. O cloro deixa o meio aquoso com a cor de mar caribenho, bonito, tudo azul. E você nunca sai o mesmo de uma piscina.

Chuchuzinho, lembro de você me chamar uma vez para um fim-de-semana no clube, e eu assenti. Senti naquele momento que, se eu recusasse acompanhá-la, poderia magoá-la; e aceitei o convite. Em momento algum falei de minha história com as piscinas de clube para que você não me interpretasse mal.

Nesse momento que te falo, chuchuzinho, é possível que esteja atrapalhado um pouco demais, porque tomo o terceiro chope. Então sua lembrança, misturada ao cheiro forte de piscina de clube, tomou conta de mim. Mas você chegaria a qualquer instante, contava já no relógio o momento do encontro, estava apenas cinco minutos atrasada.

O fato é que o cheiro infeliz não me abandonava e eu procurava aparentar calma procurando ao meu redor um grupo amaldiçoado de pessoas com cara de clube. Em um estalo, me imaginava sentado no meio de um grande quiosque de beira de piscina de clube. Tudo devido à faixa etária e à benemérita classe média que me cercava. Pronto!

Tive vontade de acender um cigarro, para o meu mais puro alívio, mas é proibido acender cigarros no shopping center. Então tentei acabar com a esfirra: em minhas mãos sobrava apenas um pequeno naco, que eu evitava comer a todo custo. O cheiro forte do hortelã da esfirra me dava a impressão de disfarçar o cheiro de clube.

Ao meu lado, um casal me espreitava, chuchuzinho. Olhava mais e mais para mim e isso me constrangia, me irritava. Eu fingia que não percebia, olhava para o outro lado. Como tive a impressão de que a mulher sorria para mim, pensei que eu devia estar me comportando de modo estranho. E ela me vigiava!

O homem que estava com a moça pareceu acenar para mim com a cabeça, e eu mais uma vez ignorei a investida e procurei controlar a bebida. Eu me detive no terceiro copo de chope, acreditando que poderia convencer o casal ao lado de meu autocontrole. Gostaria de dizer aos dois: eu não sou um bêbado.

E onde estava você, chuchuzinho, que já fazia uns dez minutos que eu esperava e você não chegava? Enquanto pensava isso, o casal que me olhava se levantou e aproximou-se de minha mesa. Meu coração pôs-se em disparada e temi que o pior de meus pesadelos poderia estar a acontecer. Eu estava assustado.

“Desculpe interromper você, aqui tão a vontade...” disse a moça. E emendou, “você não é primo do Adolfo? Por favor, não me tome por enxerida. ” E continuou, “O Adolfo é um grande amigo nosso de balada, mas faz um ano que perdemos contato. Você não teria o telefone do Adolfo?”

Naquele momento, chuchuzinho, eu respirei muito fundo e agradeci à Nossa Virgem no céu. Primeiro eu encarei os dois mudo, por volta de um minuto, o que causou comoção ao casal. Quando senti que ficaram sem graça, expliquei de-va-ga-ri-nho que não era amigo do Adolfo. Assim seco, sem dar voltas, para que talvez me deixassem em paz.

Foram embora, de sorriso amarelo. Eu, aliviado, voltei-me para o relógio que dizia que você estava atrasada. Já se passavam das sete e quinze e, por quinze minutos, você perdera uma cena cômica. Eu, aquele que jamais me indispunha com alguém, que jamais seria descortês com pessoa alguma, dei um xeque-mate em um casal.

Eu não sei explicar o porquê, mas aparentemente o casal levara consigo o cheiro de piscina de clube que eu sentia. Não é uma coisa lógica, talvez apenas uma impressão psicológica. Por alguma razão, chuchuzinho, eu culpara o casal pela sensação de piscina de cloro de clube. No fundo dessa história toda, acho até que é o cheiro da classe-média.

Mesmo que eu pareça muito estranho para você, tenho que lhe confidenciar isto de piscina de clube que ocorreu. Não é qualquer piscina que cheira desse jeito doce, insuportável. Não é a piscina da escola. É mesmo o cheiro da piscina do clube e, em menor escala, aquela do condomínio. Mas... eis que vem você ao longe, toda para mim!