A transformação

Sentia as presas vampirescas e afiadas em um estalo do pescoço, e com elas, a noite ganhava novos contornos e dimensões. A sensação de sobrevida ao silêncio dos que dormiam, ampliava os sentidos. As pás do ventilador de teto pareciam rodar em câmera lenta. As batidas do relógio, até então, inaudíveis, ecoavam como gongos de uma catedral, acrescidos pelos sons solitários de carros que passavam, distantes, no exterior. Os pequenos pontos de luz de equipamentos em "stand-by" ofuscavam como faróis em alto mar. O corpo parecia extremamente sensível, apesar da rigidez, quase mórbida, adquirida pelo momento. Estar alerta quando todos dormem é uma morte na contramão. Os pensamentos acelerados percorriam o interior gélido sincronizado com a brisa fria da escuridão. Todas as sombras ganharam vida, enquanto sentia a minha própria se esvair naquela mordida chamada insônia.