AME.

No AME! vi uma senhora que me comoveu... Sozinha nas fileiras de espera, segurava com força um terço e rezava baixinho, olhando para o vazio onde o aparelho televisor tentava abafar a dor daqueles que talvez estivessem ali pela última vez.

Apesar do calor sua vestimenta era fechada como que lacrada contra o mundo exterior. Encarcerada em sua dignidade, seus colares e suas pulseiras de respeito denotavam amor próprio.

Lá fora, na rua e nas calçadas, parentes, amigos, comparsas e admiradores daqueles que precisavam no ‘outubro vermelho’, que sentiam dores ou que estavam no fim de suas primaveras, aguardavam amontoados nos pontos onde o sol não torrava. Sede, racionamento de copos descartáveis, filas... O fim dos dias sempre remontando ao cheiro da primeira infância, o cheiro da inalação, dos antibióticos, da química farmacológica. Voltamos àqueles odores na velhice! Não duvide!

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 28/10/2016
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