Sobre uma Caminhada.

Atravessamos as duas pistas, como é conhecida por essas plagas, e desembocamos na avenida Yoshi Não Me Ama. Saltamos uns lixos nas calçadas e fomos pelos canteiros centrais, onde pinguços às sete e meia da manhã entornavam carochinhas de princesinha do noroeste. A degradação generalizada botava mães emocionadas descabelando às bofetadas suas proles mal criadas...Um amigo ao longe acenou enquanto verificava a solidez da lataria de sua caçamba de camionete deixada no canto de tudo, pinos, bitucas de tudo, asfalto com crostas maiores que aquelas lunares de lunáticos, comerciantes espancando moscas, besouros, baratas, aleluias, centopeias, formigas e outros tipos de insetos ainda desconhecidos pelos entomologistas, a precariedade ululante, o jeitinho de sempre, o sentimento abafado num caco de vidro, o bafo quente do vazio, o desespero, o caos e todos os adjetivos relativos a essas coisas periféricas, abandonadas pelo sistema plutocrata...

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 25/10/2016
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