Abriu os olhos, sentiu como se um terremoto acontecesse: tudo tremia em seu corpo, para onde olhava, tudo tremia. Tentou se levantar, mas o chão se abriu. Parecia um sonho desses de Carrol, mas era mesmo um pesadelo bem real.
         Tentou o celular para chamar alguém, mas não suportou a sua luz. Reduziu-a e chamou o marido que veio em seguida; quase não conseguiu falar, um sufocamento se deu, seu coração disparou e um rio de lágrimas intermináveis se soltou. O marido não entendeu nada. Ela não foi trabalhar. Talvez ela quisesse ficar em casa, pensou ele.
         Mais tarde, ele a chamou. Parecia um pouco melhor. Levantou-se e almoçou. Em seguida, o ouvido zumbiu, o coração disparou, o chão se abriu e o seu mundo começou a tremer. Começou a sufocar. Começou a chorar.
         Assim foram dias e dias, meses e meses. Uma crise a cada alguns dias, às vezes durava horas, às vezes um dia, ou dias. De médicos a médicos, nada resolvia. De religião ao sobrenatural, nada resolvia. Não havia resposta. Teria morrido e estaria no purgatório ou no inferno?
         A cada dia, esforçava-se para melhorar, mas não suportava o relógio quando se acelerava, ou a agenda quando lhe empunha compromissos urgentes e repentinos. O terremoto acontecia sem dó nem piedade, como um castigo, uma punição pela desatenção. Mas como se lembrar de algo vivendo esse pesadelo? Dia a dia nem sabia se o momento seguinte poderia acontecer, se poderia ser. Mal suportava a curta viagem de carro por dois quilômetros até o trabalho. Lá chegava, perdia a cor, perdia o ar e perdia a graça por uma ou duas horas.
         Até que a luz uma hora brilhou. A chefe cuja alma também carregava o angustiante fardo do mundo lhe deu o caminho de quem já o estava percorrendo, era o caminho de um médico que zelava bem pela medida exata na balança da alma.
         Assim, o fardo do mundo foi sendo repesado pelo médico em sua alma. O terremoto cessou e o chão se firmou.
         
 
Marília Francisco
Enviado por Marília Francisco em 24/08/2016
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