Vale do Proibido!

No Vale do Proibido, era proibido quase tudo, não podia mentir, julgar o próximo, não podia xingar, odiar, errar, além disso, não era permitido tristeza, só alegria, sorrisos eram mais que permitidos, reclamar não podia, egoísmo era crime, assim como arrogância e cinismo, muitos lá moravam, felizes, eram educados, solícitos, tudo estava de acordo, ninguém contestava as leis, tudo tinha explicação e ninguém se achava injustiçado.

Mas no morro do Grito, depois de algumas primaveras floridas e coloridas, alguns moradores da Vila acabavam subindo até lá e de frente ao penhasco, gritavam, não havia lei que impedisse isso, por isso muitos cidadãos faziam peregrinação. E no alto do morro, o eco reverberava as vontades de cada um, a vontade de chorar a contento, a vontade de voar como o vento, a vontade de explorar seus lamentos e recebiam de volta apenas o ressoar da dor e do tempo.

Diziam que gritar ajudava, que gritar amenizava o peso de ser tão perfeito, que no fim acabava confundindo o cérebro fazendo-o priorizar mais o grito que a dor, se isso era verdade ninguém realmente sabia, mas aos poucos a população começou a ter sérios problemas nas cordas vocais e isso acabou chamado a atenção das autoridades do Vale, assim, à revelia do povo, proibiu-se então os gritos, um muro com mais de 10m foi construído na entrada do morro e ninguém mais poderia sair dos limites do Vale.

Como já era de se esperar, essa decisão não deu muito certo, pois muitos moradores começaram a descumpri-la, afinal, se gritar não era mais permitido, o jeito então era se calar e com isso outra lei passou a ser ignorada, sorrisos começaram a desaparecer e como uma bola de neve, a alegria foi definhando, até que aos poucos, a tristeza infectou alguns cidadãos e pela primeira vez a justiça foi feita, as cadeias começaram a lotar, as celas abarrotadas atraiam mais pessoas a cada dia e ironicamente, muitos começaram a viver a vida da forma que sempre quiseram, sendo imperfeitos, assumindo seus defeitos, chorando e sorrindo de acordo com suas vontades e desejos, enfim, estavam sendo humanos em um mundo criado para serem humanos, assumindo a responsabilidade pelos seus atos e descobrindo na essência de suas almas, o livre-arbítrio.

Pois bem, como a prisão estava ficando menor a cada ciclo da primavera, o Prefeito do Vale decidiu então exilar as pessoas do outro lado do muro e assim, mais que o morro do Grito, muitos decidiram explorar o mundo além do Proibido e não mais viram a necessidade de gritar. Naquele instante, pela primeira vez não se sentiram aprisionados e não apenas pelo fato de terem sido criminalizados e jogados em uma cela, mas sim por terem vivido em um mundo onde não podiam ser eles mesmos.

No final das contas chegaram à conclusão que o mundo perfeito não existe, existe sim um mundo ideal para cada tipo de pessoa, pois se colocarmos todos na mesma balança, onde as unidades de medida são o grau de evolução e a maturidade espiritual de cada um, certamente o Proibido não existiria.

Sejam todos bem-vindos a “prisão” do mundo de expiações e provas.

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Moises Tamasauskas Vantini
Enviado por Moises Tamasauskas Vantini em 10/08/2016
Código do texto: T5724375
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