A PROFESSORA

Para tirar as teias de aranha do motor da televisão, resolve ligá-la por alguns minutos. Surpreende-se ao perceber que ainda passava a novela que acompanhara na adolescência, Malhação. Cansada de escrever, entrega-se àqueles besteiróis englobados e escandaliza-se com o que vê. Um aluno agradecendo ao professor por ter dado aula mesmo sem receber o salário por tanto tempo. E o professor, sem pestanejar, responde do alto do seu salário de personagem global: “Não agradeça. Não fiz mais do que minha obrigação.”

Não acreditava no que estava vendo. Também era professora, ciente de suas obrigações, amava o que fazia. Mas o supermercado não aceitava o cartão de crédito com a bandeira Amor, e o Visa aumentava os juros a cada dia. Só poderia ser piada. Sentiu-se desrespeitada em sua profissão. Por trás daquela linda e idealizada cena, alimentava-se o perigoso discurso de que tudo é válido em nome da vocação e amor. Crucificava os inúmeros educadores que são obrigados a parar pelo desrespeito de governos tiranos. Paralisações, assembleias e greves eram incineradas.

E os anos de estudos nas faculdades? Os inúmeros cursos, congressos, planejamentos, correções? Isso tinha amor, mas era, sobretudo, trabalho! Muito trabalho. E como os demais trabalhadores do mundo, ansiava de valorização e respeito. Puxou a tomada. Voltou para o computador. E desabafou no facebook.