Uma Rosa para Berlim - Lembranças: Não chore! 11.

Estou observando tudo o que se passa e sinto um toque frio no meu om

bro direito. Olho e vejo uma soldado de cabelos presos na boina que fala :

- Vai seguir para um exame médico... Junto com suas amigas!

Obedeço e em pouco tempo estávamos, as três, nuas diante de um médico que

parece não se importar com nossas nudez. Duas enfermeiras estão auxiliando.

- O quê são essas marcas? - Pergunta ele olhando minhas tatuagens.

- Meu tio usava desse método para identificar suas presas.

- Se era seu tio...- toca a suástica - por quê marcou você assim?

- Deve ser um louco! - Disse Erna sorrindo - deve estar vivendo de arte, agora!

- Tem que ser preso - Disse o médico muito sério.

E assim segue nossos exames. E fico nua diante do espelho. Vejo minhas tatua

gens que meu tio fez: a suástica no seio esquerdo, o símbolo da SS, os dois sinais

do síguel, no seio direito, a cruz de ferro na coxa esquerda e a águia segundo a

suástica na coxa direita, ambas na altura da virilha. Me viro e viro a cabeça para

trás vendo a enorme suástica vermelha nas costas. Sou obrigada a segurar meus

enormes cabelos loiros claros para ver a tatuagem. Meus cabelos chegam na mi

nha banda. Depois fico de frente e me olho dentro dos meus olhos azuis -claros.

Não me resta nenhuma sarda. Minhas orelhas estão sem brincos. Me afasto e vejo

Erna e Marija fazendo o mesmo. Agarro Erna por trás e a jogo contra Marija. Esta

nos empurra. E então vejo uma enfermeira entrar com roupas lavadas e botas.

- Deverão tomar um banho perfeito e se vestirem. Volto dentro de uma hora.

Vou para o banheiro improvisado e tomo banho com água cheirosa. Depois me

penteio e me sinto bem com aquele vestido bége. Erna e Marija estão de vestido

cinza. O vestido de Erna tem alguns enfeites dourados. Pequenas folhas. Horrível.

Sentamos em tamboretes colocados ali e aguardamos. E, minutos depois, chega

Uma mulher de uns 40 anos, ruiva e de cabelos abaixo dos ombros.

- Sigam-me, por favor! - E vai a frente sempre olhando para trás para nos ver. Nos

leva para fora e vai até um veículo civil: Um Mercedes-Benz Sedan 170 V de 1940.

- Entrem e fiquem à vontade! - E abre a porta e eu entro na frente. Marija e Erna vão

no banco de trás. E a mulher nos tira dali em velocidade média. E deixamos o local

e seguimos para o oeste.

- Para onde nos leva? - Pergunto curiosa.

- Se ficarem por aí - me olha - Vão acabar nas mãos desses soldados sujos - Sorri

e presta atenção no trânsito, cheio de soldados soviéticos - tiveram sorte de nos

conhecer... Vou colocar vocês em boas mãos.

- Então você só acha as pessoas certas e ganha por isso! -Disse Erna bem séria.

- Ou isso ou eu as deixo com os lobos.

A situação parece a mesma de antes. Mas aguardo o desfecho final para vêr o que

posso fazer. Observo as ruas e as pessoas rendidas e as mulheres chorando seus

entes queridos que se foram.

E assim segue o resto do dia 3 de maio de 1945.