UMA MENSAGEM NA GARRAFA - EC
“QUE TRAGA ALGUÉM ESPECIAL, QUE ME AME, QUE ME RESPEITE, QUE ME CONSIDERE MUITO IMPORTANTE, ME COLOQUE EM PRIMEIRO LUGAR EM SUA VIDA, NÃO MINTA PARA MIM E ME CUIDE PELA VIDA TODA”, lançou ao mar a garrafa bem fechada com toda a força que seu braço juvenil possuía. Haveria de dar certo!
Aquela casa de praia que seu pai havia comprado tinha um generoso pedaço particular de paraíso aos fundos, em poucos passos da varanda já alcançava a límpida areia onde ela gostava de caminhar pelas manhãs de verão. Temendo que o mar trouxesse de volta seu desejo engarrafado, dirigiu-se a um conjunto de rochedos já distante que avançava em direção ao mar assim teria mais chances de que ela fosse levada, e trouxesse seu par perfeito. E assim fez. Com o tempo esqueceu.
Muitos e muitos verões haviam se passado, a mesma praia, a mesma casa, mas não mais a mesma menina, sentada na varanda observava os sobrinhos correrem, esconderem-se, jogarem areia uns nos outros, brincarem com água e sentia-se feliz. Nunca se casou, seus namoros sempre eram frustrantes, o homem ideal não viria, sempre os que surgiram tinham um defeito ou outro, ou... todos. Há tempos decidira-se parar de reclamar da vida, afinal não colecionava tantos sofrimentos. Sempre desconfiou que poderia usufruir mais, viver mais, sentir mais, no entanto estava se conformando que não fora escolhida para certos sabores.
Naquele exato momento pensava em como recusar gentilmente mais um dos inúmeros convites de Alfredo para um cinema e jantar. Ele era tão gentil, ela até apreciava a companhia dele, mas não era a pessoa ideal com que ela sempre sonhou, afinal ele já havia sido casado e tinha um filho, portanto jamais seria inteiramente dedicado à ela. Não, certamente não poderia comprometer-se com alguém já tão comprometido.
Perdida em seus devaneios, despertou-se com o alvoroço das crianças que corriam em sua direção, haviam achado um MAPA DO TESOURO entre as rochas. Notou com espanto que se tratava da garrafa de sua adolescência. O papel parecia em bom estado. Com muito custo conseguiu abrir, quase não se lembrava do conteúdo, algo sobre um príncipe talvez. Sorriu para si mesma e concluiu:
- Por isso “ele” nunca veio !!!
Ao ler e reler emocionou-se quando finalmente entendeu que a garrafa encontrara o caminho certo para a única pessoa, em todo o mundo, capaz de suprir todos aqueles desejos: ELA PRÓPRIA !
Naquela mesma noite durante o jantar, sentiu-se leve, havia felicidade em seu íntimo, ao comentar entre risos o filme que acabara de assistir... com Alfredo.
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Este texto faz parte do exercício criativo Uma mensagem na garrafa.
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