Entre cães e mendigos
Enquanto todos sonhavam em ganhar na loteria, enquanto todos lutavam pelo poder, aquele homem só queria ser ouvido, aquele homem só queria compreender o porque. Ao lado dos ratos, pombos e baratas, como toda manhã, em seu café, competia pelas sementes de milho cru, que um mesmo e sistemático sujeito; atirava por uma janela do antigo edifício.
O velho, o moço, o mendigo, de corpo pacífico e mente conturbada, tinha na alma: mais calos e cicatrizes que, se fosse ele um personagem de filme Americano, até o Rambo das guerras tremeria em assisti-lo... Em praxe: pelos becos, vagueando pelas vielas do centro, o marginalizado desfilava como um zumbi. Em si, ou fora, mas em sua realidade cruel, falava sozinho, contava piadas, (às vezes) tudo em seu próprio idioma inventado... Como um rei, rindo, chorando, gargalhando a sua desgraça, fumava, cheirava cola, bebia cachaça. Isso, até encontrar o novo amor.
E assim, após três anos de convivência e amizade, (entre o indigente e o cachorro) era notável afirmar: que ambos viveram grandes momentos de irmandade, até o cão morrer pela velhice, e o homem despertar.
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