Os sons da morte

20 de agosto de 2015, ainda cedo, as cobertas já não esquentavam a cama. O telefone toca. "Não se desespere, mas..". A voz ao telefone ficou abstrata em minha mente, pois os sons cotidianos gritavam em meus ouvidos. A criança chorando desesperada e incansavelmente. O microondas apita avisando o café quente. O cheiro do café atravessa a cozinha para chegar até mim. O cheiro parece podre e me revira o estômago. A televisão ligada que antes parecia estar com o som baixo, agora ecoa risos que soam psicóticos. A madeira estala como se estivessem a dar socos nas paredes. O latido agudo do cão vizinho penetra através da janela aberta, fecho-a. O ar então me falta. O relógio soa as horas com seu tic-tac incessante. Seus ponteiros giram, mas os segundos não passam. O tempo parou. Os sons se misturam e formam uma orquestra perturbante que domina minha alma. Enlouqueci.

Aline do Amaral
Enviado por Aline do Amaral em 04/09/2015
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