A vida como ela é

Quanto mais vejo a dedicação de uma mãe pelo seu filho, mas fico pensando ….

Será mesmo que fizemos o certo?

Eu por exemplo vim de uma família onde aos 6 anos fiquei órfã de pai, e automaticamente de mãe também, pois minha mãe tinha apenas 27 anos de idade, e ficou viúva com 7 filhos, sendo o mais velho com 8 anos e o mais novo, ainda no ventre, pois estava numa gestação de 7 meses.

Imaginem isso hoje, nos tempos atuais, seria um caos, mas isso também foi há 44 anos.

Eu e meus irmãos fomos sobreviventes de um destino que foi colocado a cada um de nós.

Hoje quando vejo a forma que muitos tratam seus cachorros, imagino o quanto teria sido mais feliz, se tivesse tido um pouco desse cuidado, porque nossa alimentação era controlada, pela escassez, pois foram meus avós maternos que nos socorreram.

Mas imaginem vocês de uma hora para outra, cair de paraquedas, uma mulher gravida com mais 7 crianças, sem ter nada, pois meus pais moravam de aluguel, e quando ele falaceu, já ficamos abandonados no cementério, sem casa, porque já fazia meses que o aluguel se encontravam em atraso, e se já com meu pai vivo, estava assim, imaginem uma mulher sozinha com 8 crianças, o dono da casa, agiu rápido e nem deixou minha mãe voltar para casa, e deixou nós ali no abandono.

Mas Deus permitiu que meus avós mesmo muito pobres nos socorressem e nos amparassem a todos.

Meu avó um simples empregado de açougue, e minha avó uma diarista, ambos analfabetos, mas generosos, e com o pouco que tinham repartiram isso para mais 8 pessoas.

Assim, depois dos meus 6 anos foi minha infância, morando numa pequena casa, sem energia elétrica, sem um banheiro, e com muita pouca comida, tudo era racionado, até as roupas eram muito poucas, e ia passando do mais velho para o menor enquanto tivesse uso.

Ainda lembro da minha avó fazendo os remendos, ou recortando e refazendo novas peças, com sobras do tecido de uma peça já velha, mas que ainda dava para aproveitar

Não me lembro de um beijo, ou de um carinho, apenas lembro da minha tristeza e a dos meus irmão menores, pois não tínhamos nada nosso, dividíamos uma cama velha de casal para 4 crianças, e num mesmo quarto dormíamos todos, nosso colchão de palha e uma velha coberta de algodão era o que tínhamos.

No inverno o que realmente nos aquecia, era um corpo bem junto do outro, o calor humano era realmente necessário, pois só assim, nos aquecíamos.

Nossos brinquedos, um pedaço de pau era a boneca, e alguns pedaços de vidros louçainhas, e pauzinhos menores eram talheres, e como sempre sentíamos fome, parece que nossas brincadeiras era sempre de fazer comidinha, com frutos do mato, pois passávamos o dia soltos.

Eramos como bichinhos sem dono, acordávamos e ganhávamos duas fatias de pão, as vezes com direito a uma xica rá de café, outras vezes apenas o pão, com uma musse, ou uma margarina como recheio, e isso era até o almoço.

Nosso almoço se resumia a um prato de feijão, ou de mandioca, batata-doce, naquele tempo, o arroz era caro, o macarrão era ago só para os domingos, ou dia de festas, e carne era algo realmente de luxo, o que meu avó sempre conseguia trazer era ossada, ou algumas partes do boi de dentro, como o bucho (que hoje muitos conhecem como dobradinha,) o rim, o fígado, enfim, as partes mais baratas, pois imaginem que realmente era difícil, manter mais de 12 pessoas, para alimentar todos os dias.

O pão era minha avó que amassava, e cozinhava num forno a lenha na rua, e fazia isso 3 vezes na semana, e a cada fornada eram pelo menos uns 7 pães, que quase ia num dia.

Assim, com essa dificuldade foi minha vida dos 6 anos aos 10 anos.

Porque dos 10 anos começa uma nova história, um novo momento, que em breve contarei

Diante de um pouco do que contei, peço a vocês que reflitam

Será que nossos filhos conseguem entender um pouco do que foi isso?

Pois hoje fizemos tudo que podemos fazer para dar o melhor que podemos a nossos filhos, e o que vejo é eles insatisfeitos, pois querem só roupas caras. Ou os melhores celulares, ou computadores de última geração, e ainda reclamam da internet, porque não é a melhor, reclamam da comida, pois nada está bom, por mais que caprichamos, em fazer o melhor, ainda vimos filhos insatisfeito, e que ainda querem nos fazer sentir culpa por outros ter mais que eles

Ao que percebo que a nossa geração que muitos viveram histórias parecidas, ou piores, se tornaram adultos mais responsáveis e conscientes da importância, de ser Pais, e de ser filhos.

Pois hoje também vejo muitos filhos de uma gereção depois da minha, que estão deixando seus pais no abandono, que se afastam deles, porque não se tornaram personalidades, e nem conseguiram formar grandes fortunas.

Fizeram por seus filhos o que eu fiz pelos meus, me dediquei a eles por amor, e com amor, dei a eles o que não tive, que foi uma mãe presente, ou um pai presente, acreditei que o Amor seria o que de melhor poderia dar, e isso fiz não por obrigação, mas porque realmente os amei mais do que a mim mesma.

Acreditei que poderia dar a eles, uma educação de valores onde o respeito e a honestidade podem fazer a diferença, mas esqueci talvez de ensinar a eles que o dinheiro pode comprar tudo que é material, e que faz muito bem, mas que não é mais importante, do que um beijo, um abraço, ou um reconhecimento de escutar que mesmo não deixando uma fortuna material, deixamos apenas um aprendizado de amor e dedicação.

Filhos pensam que seus Pais fizeram por vocês o que melhor que sabiam fazer, e que se hoje muitos de vocês estão bem, economicamente, ou emocionalmente, seus Pais tiveram responsabilidades nisso, e sendo assim, ame-os como eles são, aceitam como eles são, porque hoje vocês são os filhos que estão abandonando seus Pais, mas amanhã vocês podem sentir a dor do abandono, e o tempo não volta, não apaga o sofrimento, o arrependimento, não faz voltar atrás, então ainda da tempo de fazer um novo começo.

Até a próxima

Beijos no coração!

Marcia Meis
Enviado por Marcia Meis em 07/08/2015
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