TRIBUTOS E ATRIBUTOS
 
Como já tive oportunidade de dizer a alguns de vocês, sou uma pessoa sonhadora na verdadeira acepção da palavra, ou seja, quer dormindo ou acordado, de olhos abertos ou fechados.

Enfim, sou um pouco sonhador demais. (essa é demais: um pouco demais sonhador). O fato é que dia desses sonhei com o Pequeno Príncipe (bem que poderia ter sido com a pequena princesa, mas desta vez, infelizmente, não foi). O importante, entretanto, é que o principezinho francês, grande viajor estelar e profundo conhecedor do Universo Sideral, contou-me um caso que o tenho por verídico, já que príncipe não mente, pois um dia haverá de ser rei, e palavra de rei....já sabem, né!

Pois que então fale o protagonista com suas próprias palavras, pelas quais eu me responsabilizo e assino em baixo, de olhos fechados ou abertos, porém sonhando.

Num país longínquo, situado nalgum planeta, obviamente pertencente a outra galáxia, havia um povo em tudo semelhante aos humanos, exceto no seguinte aspecto: eram rigorosamente cumpridores da lei, desde que esta não colidisse com seus fortes instintos, a ambição e a vaidade, tidos como altos valores, porém antagônicos e irreconciliáveis entre si.

Evidentemente, as pessoas desse recanto perdido na amplidão do Cosmos não eram exatamente iguais, havendo, como o há entre os terráqueos, uma esmagadora maioria, semelhantemente diferenciada, situada entre os extremos para mais e para menos.

Como já se antevê, havia por lá tantos problemas e inúmeras propostas de solução, sendo que o mais cruciante, porém, e para o qual não se vislumbrava saída, era o Sistema Econômico muito falho, tanto que as finanças estatais andavam em baixa e em alta o déficit público, pelo simples motivo de que a legislação tributária contrariava justamente a excessiva avareza dos indivíduos, nada havendo para estimular neles o orgulho de serem cidadãos de uma nação tão singular.

A situação já se transformava num dilema e as autoridades não sabiam mais o que fazer ou inventar, em termos de pacotes econômicos, quando um novo ministro da fazenda assume o cargo, depois de tantos que haviam sido nomeados e destituídos pelo mesmo e único motivo: conseguir equilibrar as contas públicas.

O novo guru da economia, entretanto, não se fez esperar e publicou imediatamente um pacote de medidas (desta vez não provisórias, mas permanentes, por razões óbvias, claro), cuja lei tributária prescrevia que somente pessoas belas e inteligentes deveriam recolher tributos, ficando as demais desobrigadas desse encargo, e o resultado não foi o inesperado e sim o obviamente previsto: o país passou de deficitário a superavitário em finanças públicas.

- Não é necessário – prosseguiu o visitante do espaço - ser tão inteligente para descobrir a beleza do acontecido: os cofres públicos ficaram, em pouco tempo, abarrotados de dinheiro simplesmente porque apenas uma minoria descumpriu, desta vez, a lei tributária não pagando nenhum tipo de imposto, ou seja, justamente os indivíduos belos e inteligentes, que são, via de regra, suficientemente modestos para não se acharem tais.

Diante do que ouvi, eu fiquei perplexo e fechei os olhos para refletir melhor sobre o caso e acabei dormindo, mas sonhei que estava acordado e quando acordei...não estava dormindo, não; estava, isto, sim, convencido de que problemas complexos exigem soluções simples, quando se trata de lidar com a auto-estima das pessoas.