MADEIRA!!!
 

 
No miolo da cidade pequena, com mais casas que gente, jazia uma praça com uma caixa d'água sem água no centro, e em cima dela um alto-falante, um campo de futebol tipo vermelhão, duas figueiras com seus complexos sistemas radiculares e quatro ou cinco 5 esguias guarirobas que se confundiam com o céu. Do bar do Amarildo Amarelo saíram dois bêbados daqueles profissionais, eram o Véi e o Tiãozinho Bocatorta, com pinga até no teto, com a consciência pra lá de Bagdá. Não andavam, claudicavam e cambaleavam em zigue-zague, mutuamente se apoiando. Não dava para saber quem segurava quem. Não se sabe também de onde veio, mas um deles tinha na mão um machado. E a cada passo que davam, colocavam em perigo metade da "cidade". O que demograficamente não era muita coisa. Não é possível adivinhar o que pode se passar na cabeça dessas pessoas que andam com pensamento lá praqueles lados de Bagdá. O fato é que foram até o meio da praça e cortaram duas guarirobas. 
Madeira!!!
Madeira!!!
Veio o cabo, o único policial do arraial, que morava dentro da cadeia, dormindo numa rede que ficava na única cela, entornando cachaça e cantando músicas do Milionário e Zé Rico, Trio Parada Dura e Amilton Lelo. Prendeu os dois bebuns meliantes, que foram devidamente remetidos para a delegacia que ficava na sede do município, a 25km de distância, juntamente com as provas do crime, duas "cabeças" de guarirobas devidamente limpas. Lá eles tomaram 10 horas de chá de cadeira e 10 dias de chá de cadeia. Saíram mansos e piando fino, escolados nos azares de gritar "Madeira !!!" na contramão das posturas municipais. Do palmito da guariroba experimentaram só a amargura. O cabo foi beber pinga no boteco que ficava ao lado da delegacia. Os dois pés inchados, só não perderam o emprego porque eram desempregados desde que nasceram. Já as duas "cabeças" de guariroba foram comidas pelo delegado, que delas experimentou o doce sabor da amargura.