ARREPENDIMENTO (EC)
Olhar para dentro
Invisível atormenta
Arrependimento
-------------------------------------------------------------------------------
A IMAGEM
O primeiro ato ao despertar era apalpar o colchão à procura de alguém que não estava. Confirmada a ausência, sorria para o criado-mudo, lançando um beijo em sua direção... Sempre a perder-se no infinito irreal do sonhar... Atrás, seguia-se um par de lágrimas...
Cada amanhecer repetia o ritual.
Gravado eternamente na pequena foto amarelada de um tempo virtual em preto e branco, um sorriso farto do afeto comum aos enamorados.
Tempo voltasse...
Não partiria intempestivamente...
Perdoaria...
Naquele dia, longe, não foi essa a decisão.
Saiu...
Umas roupas, uns objetos pessoais e outros comuns, entre os quais a foto num envelope, dentro de um livro, com uma mensagem de carinho no verso.
Como a marcar a página de uma leitura de um romance interrompido.
Onde não se poderia imaginar o destempero de um dos protagonistas causasse tanto arrependimento e um final infeliz.
OS DESEJOS
De princípio, o orgulho antagonizou a intermitente saudade. Afinal, “não se deve chorar sobre o leite derramado”.
Um detalhe atrapalha esse cruel raciocínio: “Sentimento não é algo concreto, a encontrar-se na prateleira”.
Tentativas de novos relacionamentos... Todos mornos... Ausente a necessária ardência da inexplicável química das paixões.
Paciência!
Encontraria quem pele a pele completar-se-iam novamente.
Dias venceram-se...
Meses passaram-se...
Anos voaram...
DESFAZENDO-SE PELO TEMPO
O tempo foi tanto que era confuso o motivo do desentendimento final.
Talvez um olhar cruzado com outra pessoa?
Talvez um telefonema subitamente interrompido ao barulho da chave na porta?
Talvez a alusão repetida de colega do colégio?
Quantos motivos de ciúme existem?
No fundo sabia o motivo...
Mas, de verdade, esquecera se fora seu arbítrio partir ou convidado a tal.
Certa época, o arrependimento venceu e trazendo a coragem esperançosa da volta.
Tardia decisão.
Telefone respondia persistente: “Esse número não existe”!
A visita de surpresa, inútil. Outro casal morando no endereço.
Desconheciam.
Ouviu de uns, lá e cá, houvesse voltado para a cidade de infância.
O ânimo da procura esvaia-se quando outros lhe diziam da partida na companhia de novo amor.
Diariamente, após análise dos planos e decisões audaciosas, típicas das madrugadas insones, refletia: “Melhor não! Um encontro poderia causar mais estragos”.
Mais sensato sofrer às sós...
Pedia perdão à foto.
De certo, somente a realidade de não poder reconstruir o passado.
Que não voltaria...
Inalcançável...
-------------------------------------------------------------------------------
A imagem...
Os desejos...
Desfazendo-se...
pelo tempo...
----------------------------------------------------------------------------
Este texto faz parte do Exercício Criativo – Perseguição - Saiba mais, conheça os outros textos: http://encantodasletras.50webs.com/perseguicao.htm