Seca... (EC)
Nos sertões, o sertanejo vive na seca, na seca adjetivo, na qualidade de quem não tem nada.
Mas lá, vive também na seca, seca substantivo, condição da terra morta, pela falta dágua.
É lá onde o sertanejo seca o sol, verbo, num desejo fervoroso de “vá se embora e deixe a chuva chegar”.
É nesse mesmo lugar que quem não tem nada, divide o nada que tem.
É alí também, que tem-se o milagre da ressurreição da terra morta, a cada chuvinha remota que chega... pra “remorrer” logo depois... pois tudo enverdece, revive, pra secar depois...
Também se dá nos sertões a ressurreição da fé, a cada nuvenzinha remota “e besta”, que aparece no horizonte longíquo num céu causticante, pois naquela pequena imagem de esperança pode estar um baculejo de garoa pra apagar a poeira... e se “num vier a chuvinha”, pelo menos foi uma imagem “bunita de se ver”.
Nasci numa terra seca, dos grandes sertões norte-mineiro, fronteira com o sertão sul-baiano, terras dos chamados “polígonos das secas”.
"Os 1.348 municípios que formam o polígono das secas são aqueles relacionados no Manual de Preenchimento da DITR, situados nos Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, compreendendo grande parte do Nordeste brasileiro geoeconômico. É reconhecida pela legislação como sujeita à repetidas crises de prolongamento das estiagens e, consequentemente, objeto de especiais providências do setor público." Fonte: http://www.dicionarioinformal.com.br/pol%C3%ADgono%20das%20secas/
A seca nos faz pessoas melhores. É uma aula prática, desde o berço, às lições de cidadania, caridade, compreensão do sofrimento alheio, que de alheio não tem nada, pois todos passam pela mesma situação, pois a seca não não prefere e nem pretere ninguém, nem nada, nem coisa alguma, ela é contundente sobre tudo e todos.
Falo de uma região onde os rios secam e as águas de poços são salobras, o gado quando tem, - coisa de rico, é magro, ficando melhor criar bodes e cabras, que comem qualquer coisa que o mato dê. Falo de uma região de penitências fervorosas e promessas a serem cumpridas na condição de “se a chuva vier...”
Mas é lá onde você vai encontrar as gargalhadas mais gostosas, os sorrisos mais sinceros, os abraços mais calorosos, a recepção mais festeira e a verdade mais impactante: - É possível ser feliz com pouco, quase nada, e essa felicidade te acompanha pelo resto da vida em pensamentos nostálgicos de quando a vida era mais simples!
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Este texto faz parte do Exercício Criativo – Seca
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