PEQUENA MENTIRA
José Célio Guimarães
 
 
     Sexta-feira, aproximadamente 21:00 horas. Marcolina assistia atentamente o último capítulo da sua novela preferida.   O celular toca. Ela o atende, dividindo atenção com a cena da novela e com o assunto da comadre.
-Diz Nerta!
-O carro do teu marido tá parado aqui, perto de casa, num lugar muito esquisito.
-Exatamente onde?
-Depois do posto. Perto da árvore grande.
-Faz tempo que chegou?
-Não comadre, acaba de chegar.
-Obrigado comadre.
                                  
     Do jeito como estava, sai. Na pressa, deixa a porta aberta, corre até a esquina e  contata um moto taxista.
- Vamos urgente. Posto da saída da cidade. No campinho onde tem uma árvore bem frondosa.
-Vai demorar por lá, Senhora?
-Se meu marido ainda estiver lá, vivo e em condições de dirigir; fico e volto com ele. Corra moço!
 
     A lua estava cheia. De longe já se via o carro ao lado da árvore.
Já bem próxima do carro, depois que confirmou ser o carro do marido e que ele estava olhando para o casal na moto, mandou o motoqueiro parar. Pagando, o dispensou.
Ela parou a uma distância de aproximadamente uns 20 metros e foi como que desfilando na  direção do carro.
 
     Quando Armando percebe que era a esposa que vinha na sua direção, suou frio. Ele já estava achando que vinha sendo monitorado por satélite.  Enquanto ela se aproximava, ele relembrava fatos da semana passado.   Quando ele estava na zona, animado, já dançando solto. À vontade como antigo cliente da casa. E ela, tranquilamente adentrou o ambiente e ocupou a cadeira de uma das mesas desocupadas. E olhou para ele e suavemente sorriu. Ele perdeu o rebolado. Sentou-se. Ficou sem ação e assim permaneceu. E observou quando chegou um rapaz à mesa dela. Eles conversaram um pouco e o rapaz logo saiu.  Sequer chegou a sentar-se. Um segundo, sentou-se. Mas demorou pouco. Saiu. Um terceiro sentou. Conversou. Dançou com ela e saiu para outra mesa.
 
     Relembrou de quando foi até a mesa onde estava  Marcolina. Não esquecia uma só palavra do dialogo.
Ele - Você quer me desmoralizar?
- Não, só estou cuidando de você.
- E esses caras, o que queriam?
- Bem. Ao primeiro que me perguntou se podia me fazer companhia eu respondi que sim. Disse-lhe que era boa de conversa. Podia beber. Dançar. Que não podia ir para o quarto, pois, era casada e que estava tomando conta do marido - que estava na mesa ao lado. O primeiro logo se foi. O segundo, como você viu, chegou a sentar-se, mas pouco demorou. Já o terceiro. Sentou. Bebeu e quando estávamos dançando, com firmeza me falou que eu realmente tinha uma conversa muito boa; agradável companhia, que dançava bem demais e que o calor do meu corpo o estava fazendo perder o equilíbrio. Que se eu quisesse ele te dava uma surra e me assumia. Eu disse que não podia e ele cordialmente se afastou.
 
     Nesse exato momento do pensamento ela chega à porta do carro. De imediato, Marcolina vê e reconhece a garota nua na cadeira, à direita do motorista. Cadeira totalmente reclinada. A garota que já estava assustada, mais se assustou ao ver a vizinha. 
-Vista-se e desça do carro, ordenou Marcolina. 
A garota desceu. Marcolina vai até ela e fala algo, baixinho, ao seu ouvido. Ela corre chorrando, desesperada.
 
      Entrou no carro.  Deitou-se no banco reclinado. Olhou Armando nos olhos e falou: Vê se não apronta amanhã; quero ver o último capítulo da novela.
- Mas o que você disse para ela?
-Que eu estava no motel com o marido dela.
Célio Guimarães
Enviado por Célio Guimarães em 08/11/2014
Reeditado em 08/11/2014
Código do texto: T5027980
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