Carta ao filho querido

Meu querido e único filho.

Aqui é Joseph, seu pai. Sinto-me sozinho apesar de morar num grande condomínio. Aqui as pessoas vivem as suas vidas, portanto, ninguém se interessa uns pelos outros. Sem carinho e sem a quem afagar, restam-me as lembranças de tudo que juntos vivemos e de todos que me cercavam de amizade. Mas o tempo me homenageou com a velhice e isto é uma grande dádiva divina, porém a longevidade tem um alto preço, sobretudo a solidão, pois aos poucos eu fui ficando muito só para enfrentar todas as situações da idade e do meio social ao qual, compulsoriamente pertenço. Já me falta vigor para reagir e decidir sozinho sobre os fatos que anteriormente eram solucionados com a família reunida à mesa posta. Hoje me senti ilhado em mim mesmo, por isso resolvi escrever-te. Recordei de todos os fatos que vivenciamos juntos em família e não faz muito tempo. Lembrei-me que pacientemente me dediquei a lhe acompanhar desde os seus primeiros pequenos e desajeitados passos sem deixá-lo tropeçar e o encaminhei para a vida toda. Hoje, quando já caminho com as limitações da velhice, com as passadas sempre mais vagarosas, sem poder ir mais distante, eis que você se coloca longínquo, ausente, sequer sabe dos meus tropeços e desconhece o quanto não lhe esqueço. Por quê? Reconheço que não é a distância física que nos limita, mas o silêncio imotivado que nos separa. Contudo, se agora você nascesse pra mim com qualquer idade, nós caminharíamos juntos e eu apoiaria meu cansado corpo em suas mãos, o mais interessante, como seu pai e que muito lhe ama, eu faria tudo de novo, seria recorrente, muito me agradaria, não me arrependeria, eu me reanimaria ao poder acariciá-lo, que, pra mim, seria uma gratidão, uma dádiva e com o mesmo amor que agora me invade eu o apertaria contra o meu corpo quase já sem forças, fragilizado, mas, com a ternura de sempre, lhe ofertaria um afago de um pai carinhoso que ama seu filho. Meu querido filho, um fraterno e grande aaabraaaço, quero te abraçar novamente, enquanto é possível.

Assina: Aquele que muito te ama, seu maior amigo, seu Pai.

(OBS – Este caso é todo fictício, um conto.)