O Senhor da Guerra Não Gosta de Crianças

Ismail corria ofegante pelas ruas de Dayr al Balah, uma pequena cidade na Faixa de Gaza que era conhecida pela beleza de suas praias e pelo maciço apoio ao Hamas, um dos principais grupos fundamentalistas islâmicos do mundo.

O irmão mais novo de Ismail, Nabih, pertenceu ao braço armado da organização e foi morto cinco anos antes após um dos muitos confrontos com o exército israelense.

Ismail nunca teve interesse em participar dos atos de violência perpetrados pelo Hamas, mas se sentia revoltado com o bloqueio israelense, intensificado nos últimos anos, que isolavam economicamente e comercialmente a Faixa de Gaza e notadamente prejudicavam os seus negócios.

O sentimento de medo invadia o coração de Ismail, um homem forte, de meia idade, considerado pelos amigos e colegas no mercado de Shejaiya como carrancudo, mas que se derretia quando estava com a sua esposa Pytia e com os seus filhos Amira, Rafi e Zahi, de 3, 5 e 7 anos, respectivamente.

Os sons de explosões, pessoas gritando e o barulho sinistro dos drones aumentavam a ansiedade e o temor de Ismail, que nem se preocupava com o ferimento corto-contuso em seu braço originado pelos estilhaços de um míssil israelense.

O prédio em que Ismail morava ficava próximo ao hospital de Dayr al Balah e o barulho ensurdecedor das sirenes e o movimento das ambulâncias deixavam claro que a situação na cidade estava caótica após o maciço ataque militar.

Lágrimas escorriam do rosto de Ismail, cujas expressões de profundo desespero eram compartilhadas com os sobreviventes daquela barbárie . As suas mãos cobertas com o sangue da pequena Amira e de Rafi se misturavam com o suor e sangue daquele pai que sentira a dor máxima de sua existência.

Ele tinha que deixá-los momentaneamente. Os seus olhos procuravam entre os escombros algum sinal de vida de sua esposa Pytia e de Zahi, o seu primogênito.

A busca continua. Eles jamais serão esquecidos.

E daquele dia em diante Ismail deixou de ser um simples vendedor de frutas e passou a conter o ódio, que jamais apaziguaria do seu coração, por um povo que não aprendeu nada com a brutalidade das guerras.