DO TAMANHO QUE PINTEI

E eu nem mesmo sei o que tá acontecendo. Só sei que lá fora o barulho é esquisito.

Minha pele franze de medo. Chego a feder titica. O danado retumbante, parecido com um baita de rosnado incomoda pra lascar. Esbugalho os olhos fixos na fresta da porta, fitando aquela sombra móvel e aterrorizante. Vai de um lado pro outro, uma hora gigantesco, outra finíssimo. Meu Senhor, o que será essa coisa?

Quando consigo fingir coragem, segurar os dentes trincados, levanto o corpo e vou pra perto da janela. Forço o máximo pra enxergar através do fosco vidro e nada. Só barulheira e movimentos bruscos. De uma coisa sei, não sujei a roupa porque não tem nada nas tripas.

Detalhes, um segundo é do tamanho do seu medo, pois pra mim tem vinte e quatro horas que tô no sofrimento e não amanhece. Não consigo olhar o relógio por cima da minha cabeceira. De repente, silêncio total. Alivio que nada, foi muito instantâneo. Cadê aquela fusaca? Pra onde foi o tal monstro que pintei?

Tô quase derretendo, suor desde o coco da cabeça até as plantas dos pés. Daí, boing... boing..., o relógio descarillha, cinco horas da manhã e o canto do galo quebra o silêncio estabelecido. Graças a Deus clareia o dia, posso abrir a porta e tentar encontrar algum rastro no quintal, chamar a polícia especial pra desvendar tamanho desespero.

Abro bem devagarinho e deparo com meu guarda chuva aberto e um tanto de farrapos do cobertor de Futrica, minha bela vira-lata enrolados entre eles. Meu jardim ?

Todo bagunçado, revirado. O “monstro” era nada mais e nada menos, a levadeza dessa verdadeira futrica puxando o guarda chuva pra tudo que é canto.