Velha Porteira

Havia uma porteira para chegar na casa onde eu vivia.

E quase todo o pôr do sol os vizinhos e coleguinhas vinha até ela para prosear.

Ali saía as mais belas e doídas histórias. Até as fofocas do dia eram colocadas à prova nas tábuas daquela porteira.

A lua formosa no céu ia subindo e na várzea ia aparecendo aquela neblina baixa de inverno.

Terra preta de minério, terra preta do alto da montanha.

Do outro lado daquela velha porteira era a estrada principal.

Uma estrada batida, que há muito tempo era uma estrada boiadeira, agora só passa carros, caminhões, tratores e corações saudosistas daqueles velhos tempos.

Porteira velha, nem existe mais, mas está muito viva em minha lembrança.

Naquele tempo de menino, tudo parecia tão diferente, tão simples e tão inocente.

Quantas vezes ouvi as batidas daquela velha porteira, com seu coiceiro arrastando no chão.

Tantos causos ouvi por entre tábuas daquela porteira de pessoas que nem existem mais.

Causos de assombração, de heroísmo, de dinheiro e até de pecados contra Deus e traição.

Velha porteira, seu som ecoava por aqueles grotões naquelas bocas de noites de inverno.

Quando fechava era característico o seu ruído no contado do batente com o mourão de jacarandá.

Porteira Velha, você separou a minha infância da juventude, minha inocência da vicissitude.

E seus mourões ainda moram aqui dentro do meu peito.

O som de suas pancadas acabaram por entre os ares do sertão.

Não sei o dia, mas houve, em que a velha porteira deu sua última batida naquele estradão.

E aquela querência deu lugar a pastos e só o terreno que guarda o lugar daquela construção.

Hoje vivo na cidade, casa moderna, tudo diferente.

Mas conservo nas paredes, retratos da velha porteira e da poeira do velho estradão.

É isso aí!

Acácio Nunes

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 07/05/2014
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