Encontros e desencontros

O relógio marcava seis horas de uma quente tarde de verão. O sol dourado no horizonte refletia nas águas do mar tornando-o ainda mais contemplativo.

Sentada num banco à beira mar, distraída admirava a paisagem. Não me dei conta do tempo que ali estava. O silêncio me acompanhava religiosamente.

Baixei a cabeça apoiando-a nas mãos. Cismava minha desilusão. Os olhos encharcados choravam como se as águas do mar, compadecidas da minha tristeza viessem me nutrir de tantas lágrimas.

Sentia-me entregue como se aquele banco de pedra de mim fizesse parte. Ali sozinha, somente o mar testemunhava minha dor.

A praia ainda estava cheia de incansáveis banhistas que aproveitavam os últimos raios do sol. Transitavam indiferentes à minha dor. Sentia-me absolutamente só.

Não podia acreditar que pudesse existir, sob o céu, infelicidade maior.

A dor do abandono tomou conta de minha alma. Não existia casa, não tinha família, nem amigos que de mim pudessem lembrar.

Percebi que estava no lugar errado. Aquele mundo não fazia parte da mim e da minha vida. Antes feliz, depois não mais, sentia-me lixo humano saída de grotões.

O choro se fragmentou em mil pedaços, como se, de maneira completa, estivesse condenada a duro sentimento da infelicidade.

Por que, perguntei-me, tem sido a sorte no amor tão malfazeja comigo e tão benéfica para com outros?

Precisava eu sem demora de calor humano, atenção e forte abraço que aplacasse minha solidão. Eu precisava dele, do meu amor e grande paixão.

Em gesto de aborrecimento, gesticulando e praguejando sem cessar, ele olhou raivosamente no fundo dos meus olhos, e com imperturbável agitação sem motivo grave aparente, entrou no carro que estava estacionado na praça principal, virou a chave, e em gesto arrebatador pisou violentamente no acelerador, como se seguisse as batidas agitadas de seu coração.

Seguiu por turbulentos caminhos, demonstrando pouco juízo. Deixou-me na rua da amargura.

Sentindo-me desiludida e humilhada, os soluços eclodiram compulsivos. Uma indizível tristeza enevoava minha alma. Com pensamentos inquietantes, caminhei longo tempo por veredas da duvida.

Esgotada por pensamentos maldosos, sentei-me ali fitando o infinito mar, e a inclemente fúria das ondas.

O dia declinou e no céu começavam a despontar estrelas brilhantes que para mim pareciam piscar e minha alma alegrar.

Olhei ao redor e percebi os banhistas deixando para trás as areias de um lindo dia de sol que chegara ao fim.

A negra noite cerrou-me a visão do mar, e esbugalhei os olhos assombrada.

Inesperadamente senti o calor de um sopro na nuca.

Gesticulando baixinho, quase inaudível, ele proferiu pedido de perdão e segurando minha mão puxou-me de encontro a seu corpo, dando-me caloroso abraço. Meu coração pode repousar em paz.