BREVE CONTO DE NATAL

Todo Natal era a mesma coisa. Era com um misto de alegria e tristeza que Lara via a data chegar devagarinho. É bem verdade que ela sentia um frisson no ar por conta dos presentes e dos preparativos para a ceia, mas tinha também uma baita saudade que doía dentro do peito.

Durante a infância de Lara, essa ocasião era só motivo de alegria. Primeiro, tinha que escrever a carta para o Papai Noel, e depois, ficar na expectativa de ver se o Bom Velhinho ia atender seu pedido ou não. Havia também a compra das lembrancinhas dos familiares e amigos, a ornamentação da árvore, a preparação daqueles pratos deliciosos... Enfim, era um corre-corre danado, porém era muito gostoso.

Na idade adulta, contudo, a mesma festividade perdera um pouco da sua graça. Os presenteados eram poucos e a ceia ficou restrita apenas aos familiares mais próximos. Com a partida dos parentes mais idosos e agregadores, o restante da família se dispersou, ou seja, a casa cheia, as histórias engraçadas, o entra e sai - tudo ficou para trás. No entanto, Lara sabia que não podia se entregar à amargura.

Naquele dia 24, pouco tempo antes das visitas chegarem, Lara olhou a sua volta: estava tudo pronto. Ainda dava tempo para ela se sentar um pouquinho antes de tomar banho e se aprontar para a festa. Ela acendeu as luzes da árvore de natal e sentou-se em sua poltrona favorita. Ficou ali encantada, olhando o pisca-pisca multicor com se estivesse vendo aquele efeito mágico pela primeira vez.

-Desculpe-me, Senhor. – ela disse em voz alta. Às vezes sou muito egoísta e acho que a minha dor, os meus problemas são maiores e mais importantes do que os dos outros. Quanta tolice! Sei que apesar das atribulações que de vez em quando aparecem, há muito o que agradecer. Tenho uma filha amorosa, um lar, e saúde. Tenho ou não motivos para celebrar?

Lara, então, olhou para o relógio. Estava na hora de se arrumar. Antes, porém, enxugou a lágrima que descia por suas faces rosadas. Fechou os olhos e disse comovida:

-Feliz Natal, minha mãe. Esteja onde estiver, mando daqui o meu abraço. Eu te amo. Obrigada pelos melhores natais de toda a minha vida.

Sentindo-se mais leve, Lara levantou-se e foi se aprontar.

Beth Rangel
Enviado por Beth Rangel em 22/12/2013
Reeditado em 10/02/2014
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