Vida e fé

Era véspera de natal, e Maria ainda não tinha comprado os presentes para as três filhas gêmeas de nove anos, que ansiosas não cessavam de perguntar sobre o que ganhariam.

Tantos afazeres, naquele dia, ela sabia que não podia cometer erro na compra dos presentes, embora tivesse comprado alguns já colocados sob a árvore de natal, e que Papai Noel as presenteariam, por isso, levou-as nas ruas do bairro para escolherem.

Depois de muito caminhar, encontraram finalmente os presentes que desejavam.

No caminho de volta, estavam passando por mendigos e crianças que dormiam nas calçadas, apesar da alta hora do dia.

Kate uma das gêmeas pediu à mãe que parasse perto de um mendigo. A mãe assustada com o pedido procurou dissuadi-la da ideia, mas ela se manteve firme e então a mãe fez breve parada e a filha caminhou até ele.

Ela o olhou com delicadeza e o cumprimentou estendendo sua mãozinha, e começou uma estranha conversa com ele. Quis parar ainda próximo de algumas crianças, e de novo travou uma conversa de difícil compreensão para Maria.

Aquele comportamento da filha jamais se manifestara. Ela ficou assustada, e logo que chegou em casa narrou ao marido o ocorrido.

Naquela noite quando os parentes começaram a chegar, as filhas corriam e brincavam juntando-se aos primos em grande alarido.

Quando o relógio badalou meia noite, era impossível conter aqueles rostinhos ansiosos, que aguardavam impacientes os presentes do Papai Noel.

Kate, porém, correu para seu quarto, e retornou à sala com um saco cheio de brinquedos, algumas roupas e calçados. Abriu o saco e colocou mais alguns presentes que estavam na árvore com seu nome, e pediu ao Pai que a levasse à rua vizinha, para dar um brinquedo àquelas crianças que lá se encontravam.

O pai tentou desconversar, mas ela insistiu falando com sabedoria que aquelas crianças não tinham família, nem uma gota de alegria, em um dia que muitas famílias ao redor do mundo neste momento estavam se abraçando e desejando feliz natal de paz e harmonia.

O pai desconcertado pela atitude da filha na sua meiga infância, e sem tergiversar pediu à mulher que separasse algumas rabanadas e bolos. Pegando o saco, o Pai segurou a mãozinha de Kate e partiram.

O céu estava repintado de mil e uma estrelas e a lua estava tão cheia que parecia iluminar o caminho por onde passavam.

Dirigiram-se à rua onde se encontravam varias crianças dormindo no passeio.

Surpresas as crianças puseram-se a olhar com desconfiança, quando eles se aproximaram.

Kate logo avisou para não ficarem assustados, pois estavam em missão de paz, e que queria dar-lhes um presente de natal.

Abriu o saco, e deixou que cada um viesse tirar o que lhes agradasse.

O pai pegou a travessa com as rabanadas e bolo e deu-lhes causando furor de alegria.

Felizes, as crianças agradeceram em sua simplicidade.

O pai antes sempre indiferente a estas questões humanitárias explodia de alegria.

Agradeceu à filha por essa lição de vida e fé que acabara de receber.

Percebeu como um gesto simples, farta alegria lhe trouxe ao coração.

.