Cego

Obs: este texto foi inspirado na música "blind", da banda Placebo. Se preferir, ouça a música também.

____________________________________________________________

Conheceu-a no início de dezembro, uma noite quente numa festa com os amigos. Algumas bebidas, algumas drogas, muita música. Ele gostou dela e, aparentemente, ela tinha gostado dele também, gostado até demais.

Conversaram, se conheceram melhor e ela passou a acompanhá-lo em vários lugares. Depois de algum tempo, não saía mais com os amigos, não queria ver mais a família. Só se interessava por ela. Ela e seus cabelos quase brancos e olhos cor de topázio. Ela e seu sorriso enigmático e toques sensitivos.

Os dias que passava sem vê-la eram torturantes. Sentia-se cego. Tudo era opaco, tudo era triste. Não queria ficar cego. Faltou alguns dias do trabalho para vê-la, dias que aumentaram. Chegava a ficar a semana toda sem ir a lugar algum sem ela. Noites a fio, conversavam sobre tudo ou só ficavam notando as cores da vida.

Certo dia, acordou só. Tentou achá-la, mas não obteve sucesso. Começou a entrar em desespero. Não queria ficar cego, precisava dela tanto quanto o ar.

Não queria ficar cego, não queria, não podia.

Foi à casa da mãe. “Onde ela está?!”, gritava furiosamente para todos os que estavam na casa. “Eu sei que ela está aqui! Eu sei!”. Trancou-se no quarto que um dia fora seu e chorou compulsivamente. Abraçando as pernas e se embalando “Não me deixe cego, não quero ficar cego. Por favor...”.

Foi internado. Estava viciado na mulher dos cabelos quase brancos e olhos cor de topázio. Ele a descrevia assim para os médicos. E falava mais: dizia que não queria ficar cego.

Ana Eduarda
Enviado por Ana Eduarda em 04/12/2013
Reeditado em 04/12/2013
Código do texto: T4597899
Classificação de conteúdo: seguro