Tronco Morto
Sentia-se imobilizado pelo medo que crescia a cada covardia sua. Uma árvore, fadada a morrer no mesmo lugar o qual crescera. No último minuto, entre a serra e o vento, que brisava em seu tronco oco, teve ânsia de estender suas raízes para buscar água e revitalizar suas poucas folhas agora tão amarelas, na esperança de persuadir aquele homem, e descomunalmente esforçou-se em se erguer e dar alguns passos. Contudo, não lhe fora concedido uma segunda chance, e logo mais, após aquele intervalo repentino de sensatez, o senhor dos relógios tratou de afundar o corte e derrubar a árvore morta.
Vomitou uma lama preta e se afogou antes de dizer às palavras que há tempos continha em seu peito. Algo que com certeza seria um apelo para se compadecer da sua falta de ousadia, e rompendo os eufemismos, sua fraqueza imbecil e falta de espírito. Tombou então o tronco morto, disposto ao chão para servir de material para aquecer lareiras e acabar em cinzas.
O senhor dos relógios não demonstrou o menor sinal de remorso, deixou bem claro em sua expressão a precisão daquele ato. Não o vejo como um mal senhor, ou, um senhor do mal. O vejo como justo. Afinal de contas, ninguém mantém em seu quintal árvores que não produzem frutos.