O encontro (agosto de 2013)

Sueli deitou sobre a cama sua terceira escolha de vestido e sapatos. Estava preocupada sobre o que vestir para o encontro com Caio. Tinha muita dificuldade para encontrar a combinação perfeita. Para ela, sua roupa de primeiro encontro teria que ser a combinação infalível, apaixonante. Estava muito a fim do rapaz.

Sete horas da noite e ainda não estava vestida: de roupa de baixo, passeava de um lado ao outro do quarto de olho fixo na roupa sobre a cama. O encontro ficara marcado para as oito e meia – horário em que ficara combinado com o rapaz de buscá-la em casa. Já estava de banho tomado e muito perfumada. Tudo que lhe faltava era escolher a roupa.

O vestido preto lhe conferiria uma aparência especial, tipo jantar romântico. Mas, será que não era muito formal para a ocasião? Seu encontro com Caio seria um jantar em uma casa de massas no norte da cidade. Nada formal na escolha do restaurante, a ocasião talvez não permitisse um traje preto sofisticado.

Outro vestido, um de estampa floral, talvez fosse a melhor escolha. A bolsa bege que lhe acompanhava tornava o visual elegante – sem o peso da formalidade de um vestido preto sem estampas. Mas, também algo não parecia certo naquela escolha. A parte de baixo da cintura era muito grande – ia até uma medida abaixo dos joelhos.

Tomou o vestido floral às mãos e colou o traje sobre o corpo para ver no espelho como ficaria com ele. Parecia que o vestido lhe acrescentava idade. Era talvez muito nova para ele e não se lembrava o porquê de haver comprado aquele vestido um dia. Não lhe caía bem, talvez caísse melhor em uma pessoa mais velha, talvez sua mãe.

Deitou o vestido de lado, na cama, novamente. Aí viu um vestido básico, de imitação de seda, todo azul. Desse lembrava-se do dia em que o comprou: Adquiriu o vestido para ir ao aniversário de um membro da família. Caía-lhe bem e, se não fosse muito aberto nas costas e no busto (nós atravessando o frio de um rigoroso inverno), seria desde já sua melhor escolha.

Tomou às mãos o vestido para certificar-se de que não era impróprio para um dia de frio como aquele. Realmente o vestido era lindo, mas a falsa seda e decotes desafiava qualquer pessoa mais sensível à temperatura de um inverno chuvoso. Devolveu o vestido para a cama e debruçou-se sobre ele por um minuto. Depois sentou-se na beirada da cama.

Já se passava das sete e meia e ali estava, não conseguira escolher a roupa do encontro. Poderia pedir ajuda à sua mãe que estava no andar de baixo da casa, provavelmente cuidando da arrumação da cozinha em um sábado como aquele, frio, em que atividades com água não são muito recomendadas. Mas relutou em pedir-lhe ajuda naquele momento.

Levantou-se e, novamente, passou a caminhar de alto a baixo do quarto de dormir, em torno da cama apinhada de vestidos, bolsas e sapatos. Viu desta vez um vestido verde-oliva que lhe encantou. Tratou de pegá-lo à mão e deitou-o sobre o corpo. Depois, pòs-se rapidamente a vestir o vestido e correu para o espelho para avaliar.

Talvez este. Bom de comprimento, na altura dos joelhos. O caimento muito bom. Mas engordara um pouco nos dois últimos meses e uma barriguinha saliente “brotou do nada, ali no meio do corpo” – Pensou Sueli. Ainda assim, foi pedir a opinião de sua mãe. Abriu a porta do quarto e, do alto da escada gritou histericamente, “Mamãe!”.

Sua mãe, sabendo instintivamente do que se tratava, não se apressou em responder. Conhecia muito bem a filha e – sabendo do encontro daquela noite – só podia ser alguma coisa relacionada à sua escolha de roupa para a saída noturna. Depois de uns cinco minutos respondeu, do pé da escada, “Sueli? Quer minha ajuda?”

Logo depois, subiu até o quarto da filha. Perguntou-lhe a filha, “Que tal este, mamãe? Já provei três vestidos e nada. Neste aqui eu achei que estou linda, mas estou gordinha e, logo, tenho a sensação de que o verde-oliva – somado à barriguinha protuberante – fez de mim uma pequena azeitoninha.”

“Deixa ver” Disse Dona Maria. “Dê uma caminhada.” Emendou. Também disse, “Hmmm... não entendo o que você fala, minha filha, sempre exagerada. Sua barriga não me parece protuberante. Suas ideias não corresponde à realidade, em definitivo. Ponha agora os sapatos e vamos ver como fica a combinação completa. “

Sueli fez o que sua mãe recomendou e, até uma bolsa verde-oliva encontrou no amontoado de coisas de seu armário. Não ficou feio, mas a barriguinha protuberante, na opinião dela, estava muito saliente. Poderiam pensar que estava grávida, o que estava muito distante da realidade dos fatos. Estava “um pouco obesa”, em sua linguagem de exagero.

Mamãe Maria deu licença por uns instantes com a desculpa de que havia um balde enchendo de água na cozinha. Mas, antes de descer, assegurou Sueli de que poderia chamá-la novamente e que viria rapidamente a seu socorro. No canto dos lábios de dona Maria, um sorriso dissimulado. Achava graça dos caprichos de sua filha.

Oito horas da noite, viu Sueli no relógio de pulso. Em meia-hora chegaria para buscá-la o mancebo. Não tinha tempo a perder: foi logo retirando o vestido oliva que a deixava gorda e aterrissou assustada seus olhos sobre toda a roupa espalhada encima da cama. O que vestir? Não teve receios:

Tomou às mãos o primeiro vestido de todos, o modelito básico preto. Para ele havia bolsa preta e sapatos pretos combinando. A casa de massas do encontro que – seria romântico, pedia a Deus – receberia esta noite uma linda cliente em traje de festa. No vestido (experimentou), não havia lugar para saliências. Estava linda quando tocou a campainha.

Não desceu imediatamente: faltava o banho e ainda que se maquiar. Mas, segundo Sueli, diz à norma que o certo é deixar o parceiro esperando. Até uma hora de espera estava certo. E sua mãe receberia o rapaz, Caio. Limpou a cama dos vestidos deixando apenas o vestido preto. Despiu-se e entrou no chuveiro. Tomou um banho demorado antes de se maquiar e descer.

Leo Marques
Enviado por Leo Marques em 28/08/2013
Reeditado em 13/07/2017
Código do texto: T4455931
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