Saltos

Foi um salto livre, coisa de dois mil, dois mil e quinhentos metros de altura. Atirou-se de cabeça e, obviamente, estabacou-se no chão. Não sobrou nada. Também pudera, ele era lindo, bem falante, carinhoso, charmosíssimo, educado... impossível não se apaixonar, deixar de seguir aquele homem que reproduzia em seu ouvido todos os sons que ela sempre sonhou ouvir.

O começo foi, como todos os começos, uma explosão de felicidade. Amigas invejavam sua sorte. Daí para largar tudo – faculdade, família, trabalho, cidade, as amigas invejosas – foi um pulo. E na sequência compraram um pequeno imóvel, ele com o nome e ela com o dinheiro, investindo tudo o que tinha sem que o próprio nome aparecesse. Para facilitar os trâmites, ele dizia. E se dizia, era o certo. Ela estava nas nuvens.

A queda se deu quando ela engravidou e ele desapareceu no ar. Levou tudo, menos o garoto. Mas deixou algumas siglas: duplicatas do BB, dívidas em USD e uma complicada DST.

A mais nova acompanhava de longe o doloroso salto da irmã. Um dia também lhe apareceu um príncipe semelhante, daqueles que fazem as mulheres sentirem-se a última Coca-Cola gelada do deserto. Da mesma forma ela não teve dúvidas e atirou-se de cabeça!

Mas, com toda a triste experiência familiar nas costas, a precavida atou a elas um paraquedas: levou o moço para o cartório - a favor do vento, com lenço e com documento.

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Este texto faz parte do Exercício Criativo "Um salto de paraquedas"

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