O troco

Era véspera do aniversário de Ana. A manhã se apresentava esplendorosa com miríades de raios solares. Ela agradeceu pelo lindo dia, e lembrando-se do marido que ficara mergulhado na pura natureza do sítio, sentiu uma descomunal saudade. Resolveu abrir sua caixa de mensagens e verificar alguma enviada por ele, que ficara de ir a seu encontro na cidade para com ela comemorar.

Com imperturbável calma e serenidade, verificou que sua caixa de mensagens estava cheia, mas logo identificou aquela que aguardava. Abriu-a cheia de confiança da sua esperada chegada.

Com a calma do mar tranqüilo, pausadamente ela leu a mensagem. Sua fisionomia antes suave e olhos meigos transformaram-se. Seus olhos esbugalhados se fixaram na tela do computador e seguiu-se um religioso silencio.

Eles estavam casados e enamorados pelo menos trinta anos. Desta feliz união tiveram três admiráveis filhos que já estavam casados, e lhes deram seis portentosos netos, formando uma grande e bela família.

Já sem filhos para cuidar, eles tinham liberdade de tempo, e decidiram atirar-se com ímpeto na compra de um aprazível lugar, que poderia vir a ser a residência definitiva deles, que buscavam sossego.

O lugar era agradável e romântico, escolhido pelos dois. Fora amor à primeira vista.

Com clima deleitável onde se podia ser espectador de pássaros tenores e respirar o ar puro das regiões silvestres, o estresse ficaria longe de suas vidas.

Amiudadas vezes ela ia à cidade para resolver algumas pendências de um pequeno negócio que mantinha em sociedade com uma filha, com promessa de tão logo resolver e não mais precisar ausentar-se daquele aprazível lugar.

O marido, acomodado às delícias da vida agreste, dificilmente dali se ausentava, mas cobrava dos saudosos filhos alguma visita.

Na ultima partida de Ana à cidade, sua permanência demorou-se um pouco mais e aproveitou a proximidade do seu aniversário para comemorar juntamente com os filhos e netos. Esperava ansiosa pelo marido para completar a família.

Aquela estranha mensagem recepcionada, por certo não era a que esperava.

Escreveu ele que enquanto ela estava ausente, conhecera uma bela moça e desimpedida, disposta a se dedicar de maneira integral a ele e, portanto, decidira pelo fim do seu casamento.

Ela custou crer que ele tenha assim procedido de maneira tão intempestiva.

A filha, perto estava a tempo de ampará-la e evitar que fosse ao chão. Com movimentos arrebatados e nervosos, agarrou o telefone e para o pai ligou. Queria saber sobre aquela desconcertante mensagem, afirmando que só podia ser uma estúpida brincadeira.

O pai com voz grave e tom resoluto ratificou o que redigira.

Ana, com fisionomia pálida e abatida, corroída por fundo desgosto, caiu no choro até secar a ultima lágrima.

Tão logo refeita da angústia profunda e tristeza impiedosa, contratou advogado que providenciasse o divórcio. Era doloroso demais, pensar que fora casada com tal homem por longos anos, e desconhecia o teor de sua história. Ele fora covarde no seu proceder.

Tivera o gosto de saber, algum tempo depois, que da singular aventura dele, nas suas saídas para se dirigir ao comércio, a distinta moça desimpedida, levava seu amante para dentro de sua casa.