Viagens pelo Ceará XXXIII

IDEIAS AVENTUREIRAS, MUSICAIS, LITERÁRIAS, MÍTICO-CURANDEIRAS, ENXADRÍSTICAS, TEATROLOGAS E INSANAS... DE MORADORES DO VALE JAGUARIBANO, NUM ANO DE ESTIO.

PALAVRAS DO CANTADOR

Mas vou falar das origens. A viola veio antes do piano para o Brasil, este para a elite, e ela para a sub-raça. O que sei por leituras é que o povo simples adotou a viola em muitas regiões. Particularmente aqui no Ceará, li poemas do Juvenal Galeno, que foi poeta e muito escreveu no século XIX e início do século XX. Ele se refere à viola várias vezes, não faz alusão alguma à sanfona. Esta, também só veio depois e foi adaptada para outros estilos bem nossos. Na música nordestina, se deu o caso de ser usada para acompanhar os ritmos do baião, do xote e outros mais, que, já na época da segunda grande guerra, nas festas promovidas pelos militares norte-americanos em terras potiguares, foram chamados pelo famigerado nome de "forró". Devido à expressão inglesa "for all”, nos dias de bailes em que os estrangeiros resolviam escancarar os portões do barracão para a ralé em geral. Mas o que eu quero dizer é que os instrumentos musicais e até os estilos sofrem discriminações. Saiba, a Inezita Barroso relatou isso muito bem, ela própria viveu o drama da viola ter sido passada pra traz com o advento da jovem-guarda na década de 1960. Depois, a musa dos matutos, retorna sim bem mais pungente principalmente para os estados do sudeste, sul e centro-oeste. Outro instrumento tido por coisa de malandro foi a violão, este descendente do alaúde que vem das terras do profeta Maomé. Existiu muito preconceito... quem tocava violão na época de meu pai era tido por boêmio cachaçeiro.

Mas eu gostaria de dizer mais é que a viola e o violão estão no nosso país e sofreram muitas variações, pra viola se criaram várias afinações e era empregada em estilos remotos, como o fado, o lundu, o maxixe, o cateretê, o jongo, o cururu e o baião dos repentistas dentre outros. Ressalto ainda que antes do rei do baião, a viola já era a estrela que brilhava nas festas do nossos rincões. Digo porém que, com raras exceções, só mesmo quem conhece e sente a sonoridade e a levada desses antigos rítmos, sabe bem apreciá-los e valorizá-los. Conheço jovens estudantes de música pop que descartam os sons suaves até de violinos, simplesmente por darem mais ouvidos aos sons estridentes e distorcidos de guitarras elétricas. Eu mesmo adotei a viola pura com cordas de aço por achar bonito o som, hoje em dia os violões tem um som de nylon que eu não aprecio muito.

E que os seguidores do modismo desfrutem do seu gôsto e gastem o que possam gastar pra satisfazerem seus apetites e desejos sonoros. Quanto a mim, fico na minha, pois se pra alguns sou tido por ultrapassado, não me sinto ofendido, apenas digo que, se eu tivesse condição financeira de seguir a moda, mesmo assim eu não a seguiria, e continuaria sendo chamado de demodê. Sei também que os de língua ferina ainda iam juntar a este adjetivo um outro e era bem capaz de eu ouvir algum murmúrio tipo: Além de ultrapassado, muquirana!

Obs:Tenho publicado somente no recanto das letras uma auto-biografia, meu primeiro livro, cujo nome é “Fascinado por chuvas”. Já este texto que voce acaba de ler é parte do meu segundo volume, cujo título e subtítulo pode se lê acima.

Caso essa seja sua primeira leitura desses contos, sugiro que leia desde o primeiro capítulo para uma melhor compreensão e proveito. Atenciosamente

Agamenon violeiro

Agamenon violeiro
Enviado por Agamenon violeiro em 02/04/2013
Código do texto: T4219844
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