Viagens pelo Ceará XXX

IDEIAS AVENTUREIRAS, MUSICAIS, LITERÁRIAS, MÍTICO-CURANDEIRAS, ENXADRÍSTICAS, TEATROLOGAS E INSANAS... DE MORADORES DO VALE JAGUARIBANO, NUM ANO DE ESTIO.

Foi então que o apresentador tomou a palavra para encerrar o evento pois não havia mais inscritos para o sarau, porém o Trovão do Vale se levantou e pediu para ler um de seus textos de pesquisa sobre o linguajar e os bordões do povo. Explicou que não era poesia o que ia ler, eram ditos populares já quase esquecidos hoje em dia. E começou e ler o papel.

MONÓLOGO DE DESPEDIDA DE UM MATUTO DESTEMIDO

Bons ventos o tragam meu patrão, eu estava meio desenxabido mas a presença de vossa bizarria me deixa supimpa, estou bem e você como tem passado? É eu sei, é como diziam os antigos: tudo bom e nada presta! As novidades? Eu tenho uma nova em folha, e vou assuntar agora mesmo, a bem dizer estou pensando em sair da moita, ir por aí, não só sapear, mas dar mãos à obra. Estão dizendo os noticiários que lá pelo ôco do mundo existe um negócio da china e tomara que eu não esteja escutando cantiga de sereia. É isso mesmo, estou pensando em azular, não posso e ninguém pode dizer que o que vou encontrar são favas contadas não, pode até isso ser coisa de elefante branco, mas eu preciso proceder tal qual um São Tomé. Tomara que não seja fogo de palha e eu não me engane com a cor da chita. Esse povo sabido de hoje em dia não dá ponto sem nó, e eu estou cansado de saber que tem sempre algum boi na linha... mas eu nunca fui de roer a corda... não tenho mãos de fada, mas tenho estômago! não tenho intenção de roubar a cena de seu ninguém... sei que qualquer um pode dar um mau passo na vida, mas é preciso ser diferente do caranguejo... nunca apreciei pitaco, nem por isso tenho medo da minha sombra. Já bati o martelo! Sei que cada cabeça é uma sentença e eu nunca fui carta fora do baralho, nem por isso vou carregar o mundo nas costas, sei que sou sim um pé-de-boi... meio casca grossa prá alguns, mas é porque não sou cheio de nove horas, não ignoro que a curiosidade matou o gato, mas eu não sou da família dos bichos que escondem as unhas, eu sou é daqueles que estão sempre mostrando os dentes e por isso estou armando o bote. Sei que sou capaz de arrancar o pica-pau do ôco, mesmo que depois a vaca já pro brejo! É meu compadre, tomara que isso não seja um cavalo de Tróia, de mim eu sei, não sou de fazer cêra, sou mais é de fazer das tripas coração, não gosto de corda bamba, mas vou dar esse tiro no escuro, a esperança é a última que morre e esse meu proceder não é como querer tudo a ferro e fogo. Está feita a minha trouxa como é certo que o invejoso sofre! Quero fazer boa figura e boas amizades, sou de boa paz e tenho fé em Jesus... mas de matutar morreu o boi, é chegado o momento da cobra fumar. Sei que por aí todo mundo tem o seu calcanhar de Aquiles, não sou diferente, mas nunca fui de chorar lágrimas de crocodilo, eu quero é ir ver e vencer, e depois você sabe, vem o lazer e é hora de matar o bicho. Porém lhe asseguro que já pensei nos dois lados da moeda, e se a coisa não for tão alvissareira como imagino, esse aqui é que não vai chorar leite derramado não! mesmo sabendo que o povo do leva e trás fica por aí fazendo minha caveira, não sou nem nunca fui da laia deles nem tão pouco jogo confete, pra os linguarudos digo que o castigo pode não vir a cavalo, mas a vingança é um prato que se come frio e nessas voltas que o mundo dá, alguém que não tem nada a ver com o peixe, pode muito bem descer o sarrafo no lombo deles por mim patrão! Isso é batata pode acreditar. Então é isso amigo véio, antes tarde do que nunca, pode ser que eu me veja em papos de aranha e diga: adeus viola! Mas por essa luz que me alumia, se eu me enganar com a aparição e não bater as botas lá pela baixa da égua, vou esperar a poeira baixar e já que estarei entregue à própria sorte, pico a mula no rumo de cá! Tá decidido e tá dito!

Obs:Tenho publicado somente no recanto das letras uma auto-biografia, meu primeiro livro, cujo nome é “Fascinado por chuvas”. Já este texto que voce acaba de ler é parte do meu segundo volume, cujo título e subtítulo pode se lê acima.

Caso essa seja sua primeira leitura desses contos, sugiro que leia desde o primeiro capítulo para uma melhor compreensão e proveito. Atenciosamente

Agamenon violeiro

Agamenon violeiro
Enviado por Agamenon violeiro em 31/03/2013
Código do texto: T4216960
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