Uma certa vez, em um país distante, a fauna e flora estavam alvoroçadas.  Pela primeira vez ouviu-se uma conversa entre pessoas sobre um casamento que iria acontecer no Reino das Cores em Bolotas. 
Sim, porque nesse país, como em todos existiam plantas, animais e pessoas.  Só que nesse conto as pessoas são coadjuvantes importantes e sem elas a estória não seria contada, nem o fato acontecido.

Passeando entre galhos, sobre uma grande pedra ou em cima de restos de portais e altares de uma ruína, beijando-se língua com língua, namorava um casal de lagartos. Já eram conhecidos pelos nativos do lugar e pelos turistas que por lá eram abundantes, curiosos e estupefatos.  Também lá por aquelas bandas as cores contagiavam, misturavam-se, escondiam-se pra aparecerem diferentes, formavam manchas, circunferências, simulavam alto relevo e reentrâncias por todos os lugares; nos morros, na beira dos rios, nas plantações, nas árvores frutíferas, nas esquinas de um velho esconderijo de macacos sagrados, enfim por todos os lugares próximos de uma cordilheira onde se poderia andar, se viam cores, nuances, cruzamentos, transformações, tudo o que é inimaginável O casal de namorados foi batizado pelos turistas: o macho era escamoso, cor de tela ocre terracota e passou a ser chamado Escamocre.  A fêmea tinha a parte superior verde, do rabo até a cabeça; um risco preto dividia a parte superior, da inferior, que era rosa Pink como bolotas pretas.  Faziam um belo casal.

O macho, como são os humanos, era mais discreto; a fêmea, fazia tudo para aparecer e nem precisava, era mesmo muito estranha. Seu nome era Espinhosa, devido uma carreira de dura pele em forma de circunflexo, ao longo do dorso, que pareciam espinhosos.

Casamento, local e hora marcados. Meio dia, em uma bacia de pedras, entre um pico e outro, Na Cordilheira dos Lagartos, Ponto Seis; contudo, em um local accessível aos colegas da raça, amigos animais e turistas com bom zoom de câmera.
Palavras do livro “Lagartos e Camaleões Salvos” foram ditas pelo Lagarto Maior. E como, vocês sabem, lagartos adoram balançar a cabeça dizendo SIM, o tempo todo; bastou a pergunta formal e toda a turma larga a subir e descer; descer e subir a cabeça,  o tempo todo até que o Lagartão gritou: PAROU! Estão casados, em nome do criador e mantenedor da Cordilheira Alva.

Hora de dispersar, tudo e todos; o casal ia para a gruta nupcial. No caminho, o inesperado: atravessa a estrada outro lagarto, convencido, mas não bonito; meio lento, mas de boa conversa, assim parecia. Uma boa pegada, um bom plá, conversa disfarçada e Espinhosa estava no papo!  Escamore então deixou-se revelar seu segredo: da região do pescoço (se é que lagarto tem pescoço) naquele espaço, surgiu uma grande, franzida, e cheia de gomos gola. Sim! Uma gola marrom escuro, enorme, que mais parecia um guarda chuva. O intruso lagarteou na maior velocidade.  Assim o recem casado ficou conhecido o Lagarto de Gola. 

Qual o segredo?  Aquela gola não era para assustar o rival nem ninguém, era medo!  O Escamore mudou de nome e hoje existe sim, é só pesquisar.  Mas é artista, ponto alto das excursões.  Vaidoso, esqueceu Espinhosa e foi beiilinguar em outros picos mais quentes e tudo ficou como era antes.