Série "Pagando O Pato De Graça" 

II Episódio



 
        "Ensinando a Funcionária do Banco
            Como Tratar os Idosos"



Falar em ir até a agência bancária é sinônimo de paciência, filas, lentidão  e salvo exceções má vontade na prestação do serviço.

 
 Quanto  transferimos residência para a vizinha cidade de Mauá, anos 70, quando meus pais instalaram um pequeno comércio – Mercadinho Santa Bárbara, em alusão à cidade natal de meu saudoso pai – Santa Barbara do Oeste, interior de São Paulo -  quando ele nasceu (1924), Distrito da acolhedora Piracicaba, conhecida como a noiva da colina.
 
O serviço de banco era feito de modo habitual pela minha mãe, sempre muito despachada.
 
Em média três vezes por semana  dirigia-se ao estabelecimento bancário na cidade vizinha – não sei a razão, mas optou por manter o movimento bancário na cidade onde  morávamos anteriormente - Santo André.
 
Na época transporte coletivo precário.
 
Valia-se do trem, o banco em questão  uns dois quilômetros de distância.
 
Repetia este trabalho de modo habitual.
 
Certa tarde,   após enfrentar a longa fila, depara com um senhor à sua frente sendo atendido pela caixa, que diante do pouco conhecimento do cliente – no caso um senhor idoso,  olhava para a colega do lado fazendo chacotas, menosprezando, rindo do pobre coitado.
 
Este tentando assinar com dificuldades, valendo-se dos óculos de pesadas lentes sequer percebeu o descaso.
 
Mas a “defensora dos fracos e oprimidos” no caso a minha mãe, sem procuração assumiu a defesa diante dos demais clientes.
 
Como boa filha de italianos dava ara se ouvir do meio da agência o pedido de licença feito ao correntista, no caso o senhor idoso, quem sem entender nada ficou assistindo o sabão moral passado na funcionária.
 
Hoje quando pedimos para nossa mãe relembrar o episódio, passados mais de 40 anos, ainda damos  boas risadas.
 
- Escuta aqui, quem você pensa que é para tratar  mal este senhor?
 
- Eu?
 
- Indaga a caixa  apavorada prevendo o pior.
 
Você sim senhora!
 
Que bonito não é!
Você debochando desse senhor que tem idade para ser seu avô para “ essa  ai” – referindo-se à colega do lado.
 
Você pensa que não vai ficar velha?
 
Se tiver sorte, vai sim.
 
Minha mãe não dava espaço para a funcionária falar.
 
As pessoas ao redor presenciando a cena.
 
Não parou por ai.
 
- Escuta aqui sua sem educação, se você não tem capacidade para ocupar este cargo desocupe a vaga, tem um monte de gente educada querendo este emprego.
 
Aprenda a tratar as pessoas sua malcriada!
 
Onde já se viu, tirando o sarro ( expressão muito comum na época), de alguém que mata sua fome, que paga o seu salário.
 
Você que sabe debochar das pessoas deve também saber que se não tem cliente não tem emprego!
 
Desocupa o cargo para alguém que tenha respeito pelos mais velhos!
 
Dito isso, dirigiu-se para o senhor.
 
- Na outra vez que o senhor vier aqui, ela  acho que esta daí – referindo-se à caixa vai tratar o senhor bem!
 
Em seguida para o desfecho “ a paladina da justiça”  dirige-se para a caixa.
 
- Acho que você entendeu como deve tratar as pessoas, ou ainda não?
 
Sem dizer uma palavra, com a expressão de envergonhada, pois não tinha argumentos para retrucar terminou de atender o idoso, que ao término falou com minha mãe.
 
- Ta certo dona,  não estou entendendo nada, meu aparelho de surdez não anda muito bom, mais mesmo assim muito obrigada.
 
- Não fiz nada demais, apenas não tolero desrespeito e injustiças, vai com Deus.
 
Em seguida fez  os pagamentos, precisara retornar urgente para a casa, ou melhor, o Mercadinho, o trabalho lhe esperava.
 
Com a sensação do dever cumprido,  saiu  da agência  bancária  sob  o silêncio da  caixa, assim como de sua colega  e a  aprovação da clientela através dos olhares solidários.


 
(Ana Stoppa)
 
 Leiam o I Episódio - "Sapatos Voadores"

Em seguida o III - "O Motorista Desatencioso"
 
 
 
 
 
 

 
Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 05/12/2012
Reeditado em 08/12/2012
Código do texto: T4021179
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