FAROESTE - Cap -1

DÓLARES MALDITOS.

Sob o pseudônimo de: J.G.HUNTER.

( Nove capítulos)

Capítulo Primeiro.

“Mistério no trem”

O trem partia lentamente da estação da cidade de Santa Fé, Território do Novo México. Como uma víbora, serpenteava pelos trilhos lentamente, como se exibindo para os que ficaram na estação. Uma nuvem de fumaça sumia pelos ares. Aos poucos, a estação ficou vazia.

Dois homens montaram em seus animais. Sabiam piamente que se seguissem praticamente em linha reta, alcançariam aquele trem, quando ele fizesse bem longe dali uma curva para a direita. E, chegariam lá primeiro, também...

Dentro do trem, dois homens entreolharam-se, e, caminharam em separados para os vagões dianteiros. Um deles bateu à porta de uma das cabines da primeira classe. Antes que a porta se abrisse totalmente, já com suas armas em punho e lenços pelos rostos, forçaram a porta. Seus revólveres falaram por eles! O barulho do trem abafou os tiros. Toda a ação não demorou sequer, segundos!

Os intrusos saíram. Um deles levava um alforje no ombro. Pela janela de um dos vagões viram dois cavaleiros galopando rumo ao trem.

Os dois cavaleiros instigavam seus animais para mais junto do trem para abordá-lo. Um deles já quase conseguia se agarrar ao vagão.

Os dois homens que estavam no vagão, saltaram do lado oposto sem que os cavaleiros que se aproximavam do trem os vissem. Um comparsa os esperava mais adiante com dois cavalos selados. Montaram e saíram em disparada.

— Sabe quem estava na estação e agora se aproximando do trem! — exclamou em gargalhadas o que trazia o alforje. E o jogou pelos ares ao que parecia líder do grupo que os havia esperado com os animais selados.

— Não! — respondeu o líder, pegando o alforje pelos ares.

— Os irmãos Kents! Vão ficar indignados. Encontrarão, apenas, os cadáveres e levarão a culpa de tudo! — rindo a valer.

— Aquele casal nem viu como morreram. Dormiam! — comentou seu parceiro, que havia pulado do trem também.

— Que casal! — exclamou surpreso o líder do grupo.

— Um casal da cabine seis. Nós não deixamos testemunhas!

— O quê! Cabine seis! — berrou estupefato o líder.

— É, cabine seis. Você mesmo escreveu — entregando-lhe um pedaço de papel amassado que retirou do bolso.

— Isto é um nove, seu idiota! Nove! — esbravejou o líder. Apearam. E imediatamente despejaram o que havia nos alforjes pelo chão; lenços, livros e pertences sem valor caíram no solo. — Levavam cinqüenta mil dólares, idiotas! Não havia casal algum naquela cabine! — esbravejou o líder do grupo fulo de raiva.

Um dos dois cavaleiros alcançou o trem. Agarrou-se de qualquer maneira ao vagão. Seu comparsa puxou o outro animal pelas rédeas. Momentos depois, o que estava no trem, acenou para que ele se aproximasse. Então, saltou rapidamente em seu do cavalo e fugiram em disparada.

— Foi rápido demais. Não teve nenhum problema — exclamou seu companheiro.

— Havia alguma coisa de errado lá dentro. Tinha muita gente perto de uma das cabines. Isto facilitou meu trabalho.

— O que será que houve!

— Nem quero saber. Vamos dar o fora daqui e rápido! Acho que ninguém me viu entrar e sair de tão apavorados!

*****

Helen MacGreen esbravejava-se frente ao xerife:

— Xerife, eu quero providências urgentes! Meu pai ia comprar gado em Albuquerque e até agora ninguém sabe como tudo aconteceu! Já descobriu alguma coisa!

— Todos sabem disso, senhorita MacGreen... e estamos averiguando tudo, checando as informações, mas tudo ainda está muito confuso e as testemunhas são conflitantes! Depois desta guerra civil há muitos bandoleiros por aí, eu e meus dois ajudantes estamos fazendo o possível e a senhorita poderia ser mais compreensiva! Eu sei que esta aflita, mas eu estou fazendo o possível e o impossível! — disse meio alterado o xerife.

— Olhe xerife — disse mais calma —, ninguém sabia que meu pai levava cinqüenta mil dólares, ou, então, alguma coisa vazou. É um bom começo para o senhor começar a investigar.

— Eu não sabia. Obrigado pela informação! Vou averiguar isso.

— Espero que sim! — resmungou furiosa saindo em passos largos.

— Helen! Helen! — gritou alguém vindo às suas costas. Ela parou.

— O que é! — exclamou nervosa ao ver quem era.

— Helen, querida, preciso falar com você. Posso ajudar em alguma coisa, como você esta? — perguntou George Benedict tentando acalmá-la.

— Olhe Ben — gesticulou irritada —, pode cuidar de suas cartas, já resolvi tudo com o xerife. Você só tem tempo para mim quando não tem dinheiro para pagar suas apostas. Suma da minha frente!

— Não é bem assim, querida, precisamos marcar a data do nosso casamento! — insistiu ele.

— Por enquanto tudo esta suspenso! Eu tenho outros problemas. Mal acabei de enterrar meu pai e você vem com proposta de casamento, ora!

— Helen... querida...

— Quando mais eu preciso de você perto de mim, onde você está! Pode ir cuidar de sua vida e fique bem longe de mim. Não quero que nenhum credor venha me cobrar mais no meio da rua. Suma!

— Querida, seja razoável! Eu investiguei algumas coisas... dois cavaleiros saíram da estação logo após o trem partir. Os irmãos Kents!

— E o que isso tem a ver com as mortes no trem! Muita gente sai a cavalo da estação. Ninguém, além de mim, você e o tesoureiro do banco, sabiam do dinheiro que meu pai levava!

— O senhor Chambord, sabia, ele é o dono do banco. E, também pode ser uma coincidência, há assaltos por todos os lados na região.

— E justamente na hora e no dia que meu pai levava todo aquele dinheiro! Mataram um monte de gente numa cabine ao lado e não roubaram nada de valor e somente meu pai foi o premiado e ninguém viu coisa alguma! Por que não saquearam todo o vagão! Hein!

— Vou descobrir quem fez isso — disse Ben tentando acalmá-la.

— Ora, Ben, você não sabe a diferença entre um garfo e uma colher. Como irá lidar com bandoleiros! Você vai chamá-los para jogar cartas e perguntar a eles — debochou MacGreen, deixando-o constrangido no meio da rua.

— Senhor Ben — disse alguém aproximando dele pelas costas —, estamos precisando conversar muito! — quando viu quem o chamava, arrependeu-se de não ter acompanhado MacGreen pela rua, mesmo desprezado por ela.

— Olhe senhor Jacob, eu sei muito bem o que deseja. Mas, por favor, acabei de enterrar meu futuro sogro. Helen MacGreen esta desesperada! Falarei com o senhor outra hora — Timoty Jacob calmamente o segurou pelo braço com um sorriso sarcástico.

— Não foi isso que acabei de presenciar, senhor Bem! Eu só quero o meu dinheiro e não me enrole mais! Quando estava jogando, o senhor prometeu a mim mundos e fundos e eu acreditei no senhor. Acho que terei mesmo que ficar com seu mísero rancho, não é mesmo! O que acha? — finalizou cinicamente e pouco se lixando para as súplicas de seu devedor.

— Não faça isso, senhor Jacob... é tudo que eu tenho. Espere mais alguns dias até as coisas clarearem um pouco, por piedade! Terá o seu dinheiro — disse suplicante George Benedict.

— É somente cumprir sua palavra, senhor Benedict. Lembre-se do que assinou! Passe bem — saindo para alívio de George Benedict, que, plantado no meio da rua, não entendia por que sua vida estava tão encrencada. Ainda viu Timoty Jacob olhar levemente para trás e piscar para ele com um sorriso insuportável.

Então, murmurou quase inaudível:

— Vá para o inferno, cretino!

*****

Marlin Chambord estava ansioso. Chegava a todo o momento na varanda de sua casa em seu rancho. Seu capataz aproximava a galope pela estrada. Sentiu-se mais tranqüilo.

— Até agora nenhuma notícia — disse o capataz descendo do animal.

— Acha que poderá ter acontecido algum contratempo — comentou Chambord acendendo um charuto. — Os Kents não faria nenhuma besteira, não acha!

— Pelo que descobri, o trem foi assaltado e morreram cinco pessoas lá dentro e ninguém viu direito quem foi. Dizem que viram dois homens cavalgando perto do trem, depois um, depois, dois cavaleiros fugindo, e uns dizem que dois homens pularam do trem... cada um dá uma versão.

— Por que será que mataram tanta gente assim!

— E a senhorita MacGreen esta pressionando o xerife e, segundo ela, alguém do banco pode ter comentado alguma coisa. Foi o que ouvi na cidade.

— Não têm como provar nada contra meu banco e os Kents sempre foram muito eficientes. Ela está somente apavorada e atirando por todos os lados — finalizou Chambord.

— Quer que eu dê umas voltas por aí! Talvez...

— Sim! Veja se há rastos deles por lá...

— Tudo bem — disse o capataz.

Um vaqueiro aproximou-se deles a galope.

— O que foi Hines! — gritou o capataz.

— A cidade esta fervendo! Acharam os irmãos Kents mortos perto do rio e acham que eles assaltaram o trem e alguém os pegou depois.

O capataz e Chambord entreolharam-se.

— Encontraram o alforje que o senhor MacGreen levava junto dos cadáveres. Uns dizem ter visto um dos irmãos Kents dentro do trem... outros dizem que foram outros dois homens... uma tremenda confusão!

Chambord acenou levemente com a cabeça para seu capataz para entrarem. O capataz o seguiu.

— O que pretende fazer, senhor Chambord — comentou o capataz caminhando atrás dele pela sala.

— Quem você acha que poderia fazer uma coisa assim! Oficialmente, somente, eu e a filha dele, o tesoureiro do meu banco e aquele jogador inveterado sabíamos do dinheiro que ele levava... e, todos eles, menos eu e você estava na estação! — questionou Chambord.

— Senhor Chambord — disse o capataz, depois de pensar um pouco —, não acredito que eles têm inteligência o bastante para fazer algo tão perigoso! Mas...

— Mas...

— Mas se o velho MacGreen morresse... sua filha é a única herdeira daquele rancho e seu namorado, que sempre vive às custa dela, também lucraria e nosso tesoureiro jamais nos trairia! Sei que no passado ele já tentou namorar a senhorita MacGreen, mas é muito horroroso para uma jovem tão bonita como ela.

— Pensou por mim, Simon — resmungou Chambord apreensivo —, mas alguma coisa vazou! E mais alguém estava atrás daqueles dólares.

— Dos três, exceto, nosso tesoureiro, que se for suspeito será fácil descobrir, creio que a senhorita MacGreen seja a mais atrevida e inteligente e a que mais lucraria com tudo. Ela é muito esperta! Aquele jogador não sabe fazer outra coisa a não ser jogar cartas e vive endividado por aí...

— Estou tendo uma idéia genial! — e riu levemente — Para todos os efeitos nós dois tivemos um desentendimento. Você vai procurar emprego no rancho dela. O velho MacGreen estava precisando de vaqueiros, ele me disse isso certa vez.

— É uma boa idéia!

— Apaixone-se por ela, Simon. Conquiste-a — aconselhou Chambord, e exibiu um sorriso maroto. — Eu cuidarei do nosso tesoureiro...

— Não é das piores coisas que já fiz na vida — brincou Simon, lisonjeado com a tarefa. — Ela é uma jovem encantadora!

— Mas é esperta e explosiva. O pai dela vivia reclamando para mim que não conseguia por um freio nela. Portanto... terá que ter jeito e paciência.

Lucas Durand
Enviado por Lucas Durand em 18/02/2007
Reeditado em 13/07/2015
Código do texto: T385252
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