Volto na Segunda.

O homem esperava na fila do caixa eletrônico do banco. Um metro e setenta e três, aproximadamente, corpinho duro de quem bebe pinga, cabeça quadrada e incrivelmente desproporcional ao restante do corpo, camisa de manga curta verde xadrez, justa ao peitoril de pombo do bando, bermuda com bolsos e chinela havaianas. Com relação à bermuda é preciso esclarecer que haviam várias manchas suspeitas na região ao redor da bunda. Toda sua roupa estava suja de terra, e sobre seus cabelos úmidos, de quem acabara de tomar banho, mosquitinhos se esvoaçavam. Era de fato um homem sujo, que queria apenas sacar os oitocentos reais de seu provável rendimento e assar uma carne e tomar umas cachaças. Estava na fila daqueles que não sabem manusear o caixa eletrônico, e que prescindia da ajuda do assistente do banco. E eu era o próximo.

Chegando sua vez, foi lá o homem. Colocou a digital para confirmar seus dados, e depois disse ao assistente, que assistia outra pessoa;

“Agora é só digitar oitocentos?”

No que o assistente confirmou.

Presenciei tudo e posso afirmar que no final me bateu uma melancolia existencial me desanimou por alguns passos adiante.

Não tinha saldo!

Ele não sabia por quê.

Não tinha saldo!

Então o assistente, boa gente, com o fito de amenizar a frustração do homem, lhe disse:

“Volta amanhã! Amanhã é sábado, o caixa eletrônico funciona normalmente!”.

“Amanhã não adianta! Eu não sei mexer sozinho com isso não! Volto na segunda”.

SAvok OnAitsirk, 08.06.12.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 08/06/2012
Código do texto: T3712368
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