Among Us
- Isso não vai acabar bem.
- Começando bem já é o suficiente. Depois que tudo acaba, bem ou não, é só começar outra história.
- É o típico argumento do consumista compulsivo.
- Mas não deixa de ser a realidade. Ou deixa?
- Mas não somos produtos.
- Mas somos desejos. E como desejos, também somos produtos, com data de vencimento e tudo.
- Mas por que isso tinha de acontecer justo conosco? Antes, nada. Agora, tudo.
- Um tudo que é nada. Que nada engloba, que provavelmente em nada - além do prazer sazonal que tiraremos um do outro – de significante resultará.
- Mas sabe quantos infortúnios essa nossa coisa pode causar? Quantos dissabores?
- Posso presumir...
- Só presumir. Pra você está mais fácil. Vínculos meramente morais, afetivos. Falsamente afetivos, quero dizer.
- Não. Não é falsamente afetivo. É sincero. Só não é único. Minha capacidade afetiva não tem uma só nascente, para atender a uma só pessoa.
- Que seja. Denomine sua canalhice do jeito que quiser. Só que seus valores destoam dos meus, e não estão tão intrincados quanto os meus, tão passíveis de desmoronamentos emocionais quanto os meus.
- É...
- Olha, você é um demônio. Não devo acreditar em você. Nem confiar. Mas ao mesmo tempo tenho essa coisa de me sentir uma pessoa livre, aberta, espontânea, quando estou com você. É como se eu te conhecesse há anos, não tão poucos meses. Eu... Eu estou feliz. Por mais que isso seja complicado.
- Complicado até demais.
- E você?
- Eu o quê?
- Será para sempre essa pessoa monossilábica? Que não fala o que está sentindo?
- Mas eu não estou sentindo nada que valha a pena ser descrito.
- Sua mãe é uma grande puta, sabia?
Nus, cada um rola para uma ponta da cama. Um fica fitando-se no espelho. O outro, fica fitando a parede. Histórias fadadas ao desalento. Conjunções carnais desesperadas que resvalam para a mordaz dúvida sobre o que se está fazendo assim que consumidas/consumadas. Não era o primeiro casal nascido dentro de contextos impossíveis. Não eram o primeiro casal nadando contra a maré da boa cortesia para com os outros. Não era o primeiro casal formado sob os auspícios do desejo puramente corrupto de corromper tudo ao redor, só para ver no que vai dar. Só para ver os estragos. Contabilizar as perdas. Fomentar lamúrias. Se arrepender. E fazer tudo de novo. E de novo. E de novo. Eternamente errando.
04/06/2012 - 11h50m
Minus The Bear - Excuses