AS NOTAS DO SILENCIO"

Valdemiro Mendonça

Durante a guerra Irã / Iraque, montávamos um grande acampamento, a trinta km de Bagdá. O local era uma pequena vila, onde se situava o principal cemitério militar iraquiano e era proibida a entrada de estranhos.

Era o inicio do conflito e centenas de mortos eram ali enterrados. Todos os dias nós ouvíamos os tiros de salvas, seguido das notas tristes do clarim ao dar o ultimo adeus no toque de silencio que ecoava como um grito de protesto contra a ignorância do ser humano. O som do clarim ficou, gravado na lembrança, e a ele associo os acontecimentos tristes que surgem na minha vida até hoje.

Há menos de um mês, pererecando, no controle remoto da televisão, parei um instante no programa da Xuxa. Ela estava fazendo uma longa entrevista com o Renato Aragão e na sala estavam além de mim, mais cinco pessoas que também prestavam atenção na entrevista.

Foi quando o Renato de chofre disse: - Xuxa tem uma história que se conta no nordeste, de que uma mãe segurava seu filho no colo, um garoto muito doente! e desnutrido e já quase sem forças perguntou à mãe: - mãe no céu tem pão? - E morreu em seguida!

Foi como se um jato de água gelada tivesse nos atingido. Ficamos com um nó preso na garganta e ninguém comentou absolutamente nada, mesmo por que nenhum de nós conseguiria falar sem chorar alto já que as lágrimas desciam livremente em nossos rostos.

Retirei–me da sala e não pude deixar de ouvir as notas do clarim tocando silencio... Aquelas notas do clarim que eu não ouvia com os ouvidos. Elas simplesmente saiam das minhas lembranças, subiam aos céus e como gritos de angustia vinham morrer calando–se no fundo da minha alma e ferindo como flechas cheias de veneno este coração velho e cansado, mas que ainda se emociona por sentir que não apenas no nordeste, mas no mundo. Crianças morrem com fome e que esta fome é imposta pelos que tem sobrando, que jogam fora e não dividem!

Os clarins tocam pelos heróis, que morrem pela ignorância humana. O silêncio é das vozes que se calam diante das injustiças e barbárie que são cometidas contra quem não pode por si, se defenderem...

As crianças.

Trovador

Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 22/04/2012
Código do texto: T3626699
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