O SUMIÇO DOS APARELHOS GILLETTE ¨FAT BOY¨ (Conto destinado aos confrades do forum Barbearclassico.com)

Zeca tinha acabado de sair do metrô na Praça da Sé, no centro velho de São Paulo. Há muito não passava por ali. As impressões daquele lugar ainda estavam em seu cérebro, no arquivo de memórias pouco visitadas.

O cheiro foi a primeira coisa que chegou ao seu conhecimento. Já na escada rolante ele sentiu aquela mistura de odores, que ia do lixo mal acondicionado e de urina ao do abacaxi, este vendido nos arredores da praça.

O seu destino era ali perto. O escritório do seu amigo ficava num prédio próximo a Catedral da Sé. E o motivo do encontro era simples, mais uma missão. E há coisas que não podem ser ditas ao telefone.

Após o papo reto com seu amigo e chefe, Zeca foi direto pra cumprir o combinado. Tinha as informações sobre o caso e já estava preparado. Foi levado de carro até o local. Chegando lá perto, disse ao motorista:

- Aí, Bocão. Me deixa aqui mesmo.

- Falô, Zeca.

Zeca entrou no prédio visado sem problemas. Não era exatamente um condomínio empresarial. Foi pela escada e chegou ao terceiro andar. Um prédio daquele não tinha escada de incendio, mas ele viu uma janela que dava para o telhado do prédio vizinho. Entrada Ok e saída de emergência Ok.

O corredor não era muito iluminado. Achou o número do apartamento e tocou a decrépita campainha. O olho mágico na porta escureceu, alguém estava olhando para ele.

A porta se abriu e ele deu um tranco na mesma, derrubando quem estivesse ainda com a chave na mão. Ato continuo, o joelho de Zeca já alcançava o pescoço do desavisado morador, enquanto a porta era fechada com força. Zeca fez a primeira pergunta:

- Cadê a porra dos aparelhos ??

- ¨Qui¨ aparelho, cê tá loco !

Zeca reforçou a pergunta com uma automática na boca do estupefato condômino daquele prédio de poucas referências:

- Cadê os aparelhos de barbear que tu tava vendendo na net ?

- Peraí cara ! Tô com eles aí, te entrego na boa ...

Após ter amarrado e amordaçado o infeliz vendedor dos ebays da vida, Zeca deu uma rápida olhada nos aparelhos de barbear. Eram dois Gillette Fat boy e estavam em bom estado. O agora mudo vendedor já tinha enganado alguns compradores enviando produtos sem qualidade e em alguns casos, sequer enviado a mercadoria. Um desses compradores era cliente do escritório onde Zeca prestava serviços.

Já na rua, Zeca verifica que outro carro, com outro motorista vem chegando pela avenida para buscá-lo. Manual de segurança, um leva outro busca. Entra no carro e coloca o pacote no porta luvas. O motorista sabe que Zeca não vai responder, mas pergunta assim mesmo:

- Zecão, que porra você foi fazer vestido de carteiro, cara ??

A pergunta, retórica, ficou sem resposta naquela tarde de muito calor em São Paulo.