Salvando o Planeta
(EC – Fazendo serão –Exercício Criativo proposto pela Nena)
Até ele se surpreendia com a compreensão da mulher que acreditava em tudo o que ele lhe dizia. Assim é que raramente chegava cedo em casa e já se habituara a sua rotina. No começo até que ela ficava brava, ciumenta, mas com o tempo passou a confiar totalmente nele. Sou bom de lábia, ele dizia para os amigos, se gabando. Ele nem avisava mais, ela sabia: terça e quinta, dia de futebol com os amigos, quarta, uma sociedade secreta que resolvia todos os problemas do Planeta. Só avisava mesmo quando tinha que fazer serão, então ligava do escritório dizendo: Desculpa amor, mas hoje temos que fazer serão.
Fazia tempo que não jogava mais futebol, só ela não via a sua barriguinha crescente, mas nesses dias tinha o cuidado de tomar banho antes de voltar para casa. As roupas que usava? Os amigos e ele não queriam dar mais trabalho às mulheres, então contrataram um roupeiro no clube, para cuidar de tudo. Salvar o planeta? Já desistira dessa utopia embora tivesse sempre o cuidado de falar com ela sobre a reunião: Hoje falamos sobre os enviados que já estão circulando entre nós. Parecem pessoas normais, estão misturados entre nós, mas têm uma missão transcendental, salvar o Planeta com nossa ajuda. Durante um bom tempo ela o ouvia encantada, como se estivesse hipnotizada.
Naquela noite as coisas saíram do controle. Ele avisara que iriam fazer mais um daqueles intermináveis serões e só chegaria em casa de madrugada. Ela, como sempre, toda melosa disse que pena, amor, eu tinha planejado um jantarzinho todo especial para nós. Consolou-a com as palavras de costume, promessas para o sábado e domingo. Assim que desligou, saiu para o seu encontro, mas nada dera certo. Acabou brigando com a outra que agora, exigia uma tomada de decisão dele. Não queria tomar nenhuma decisão, não era por falta de amor que traia a mulher, era galinhagem mesmo. Sabia que se trocasse oficialmente de mulher talvez não conseguisse levar a nova na conversa, já que era toda desconfiada. Andou um pouco para espairecer e resolveu voltar para casa mais cedo, bem mais cedo, sem avisar. Fazer um agrado para a mulherzinha tão crédula, que o esperava em casa vendo novelas. Comprou comidas no Chinês Xadrez, comprou rosas da florista que andejava pelas ruas nas noites de lua e foi para casa.
Assim que abriu a porta do apartamento viu que havia alguma coisa errada. Não se ouvia as vozes da televisão, mas uma música suave e romântica. Na sala de jantar as luzes estavam apagadas, mas duas velas ainda acesas iluminavam os restos de um jantar romântico. Pensou: Coitadinha, chegou a preparar o jantar especial, mas comeu sozinha. Viu então que havia dois lugares na mesa, colocados frente a frente, restos de comida e copos vazios. A música continuava, vinha do quarto e para lá se dirigiu. Nem precisou abrir a porta, já escancarada. Acendeu a luz e não acreditou no que viu – deitados em sua cama, sua mulher e um homem estranho, abraçados, nus. Com o acender das luzes eles acordaram e fazendo gestos de pudor se assentaram na cama. Não é o que você está pensando, disse ela, na maior calma. Esse é um dos enviados para salvar o Planeta. Ele veio procurar você e como você não estava pediu-me que lhe restaurasse as energias que havia perdido na viagem. É só assim que eles conseguem, explicou ela. Estou ajudando você a salvar o Planeta.
Atônito, desarmado, sem saber o que fazer, ele virou as costas e saiu para a sala. Ali ponderou rapidamente – era melhor acreditar no que ela dizia, afinal não era isso que ele tanto queria? Salvar o Planeta. Ressabiados e vestidos os dois entraram na sala de jantar onde ele estava. Conseguiu, não sabe de onde, estender a mão ao Enviado e convidá-lo para conversar sobre as estratégias que usariam. O ET, com cara de galã de novela, se esquivou, argumentando que tinha uma reunião, com outros mensageiros. Voltaria outro dia. Acompanhou-o até a porta. Só aí percebeu que ainda tinha na mão esquerda as flores que comprara e estendeu-as para a mulher. Enquanto ela se refugiava no banheiro para rir escondido, um riso trêmulo de susto e alívio, ele começou a retirar a mesa e levar os pratos para a cozinha. Enquanto isso ia pensando: nunca mais farei serão.
(EC – Fazendo serão –Exercício Criativo proposto pela Nena)
Até ele se surpreendia com a compreensão da mulher que acreditava em tudo o que ele lhe dizia. Assim é que raramente chegava cedo em casa e já se habituara a sua rotina. No começo até que ela ficava brava, ciumenta, mas com o tempo passou a confiar totalmente nele. Sou bom de lábia, ele dizia para os amigos, se gabando. Ele nem avisava mais, ela sabia: terça e quinta, dia de futebol com os amigos, quarta, uma sociedade secreta que resolvia todos os problemas do Planeta. Só avisava mesmo quando tinha que fazer serão, então ligava do escritório dizendo: Desculpa amor, mas hoje temos que fazer serão.
Fazia tempo que não jogava mais futebol, só ela não via a sua barriguinha crescente, mas nesses dias tinha o cuidado de tomar banho antes de voltar para casa. As roupas que usava? Os amigos e ele não queriam dar mais trabalho às mulheres, então contrataram um roupeiro no clube, para cuidar de tudo. Salvar o planeta? Já desistira dessa utopia embora tivesse sempre o cuidado de falar com ela sobre a reunião: Hoje falamos sobre os enviados que já estão circulando entre nós. Parecem pessoas normais, estão misturados entre nós, mas têm uma missão transcendental, salvar o Planeta com nossa ajuda. Durante um bom tempo ela o ouvia encantada, como se estivesse hipnotizada.
Naquela noite as coisas saíram do controle. Ele avisara que iriam fazer mais um daqueles intermináveis serões e só chegaria em casa de madrugada. Ela, como sempre, toda melosa disse que pena, amor, eu tinha planejado um jantarzinho todo especial para nós. Consolou-a com as palavras de costume, promessas para o sábado e domingo. Assim que desligou, saiu para o seu encontro, mas nada dera certo. Acabou brigando com a outra que agora, exigia uma tomada de decisão dele. Não queria tomar nenhuma decisão, não era por falta de amor que traia a mulher, era galinhagem mesmo. Sabia que se trocasse oficialmente de mulher talvez não conseguisse levar a nova na conversa, já que era toda desconfiada. Andou um pouco para espairecer e resolveu voltar para casa mais cedo, bem mais cedo, sem avisar. Fazer um agrado para a mulherzinha tão crédula, que o esperava em casa vendo novelas. Comprou comidas no Chinês Xadrez, comprou rosas da florista que andejava pelas ruas nas noites de lua e foi para casa.
Assim que abriu a porta do apartamento viu que havia alguma coisa errada. Não se ouvia as vozes da televisão, mas uma música suave e romântica. Na sala de jantar as luzes estavam apagadas, mas duas velas ainda acesas iluminavam os restos de um jantar romântico. Pensou: Coitadinha, chegou a preparar o jantar especial, mas comeu sozinha. Viu então que havia dois lugares na mesa, colocados frente a frente, restos de comida e copos vazios. A música continuava, vinha do quarto e para lá se dirigiu. Nem precisou abrir a porta, já escancarada. Acendeu a luz e não acreditou no que viu – deitados em sua cama, sua mulher e um homem estranho, abraçados, nus. Com o acender das luzes eles acordaram e fazendo gestos de pudor se assentaram na cama. Não é o que você está pensando, disse ela, na maior calma. Esse é um dos enviados para salvar o Planeta. Ele veio procurar você e como você não estava pediu-me que lhe restaurasse as energias que havia perdido na viagem. É só assim que eles conseguem, explicou ela. Estou ajudando você a salvar o Planeta.
Atônito, desarmado, sem saber o que fazer, ele virou as costas e saiu para a sala. Ali ponderou rapidamente – era melhor acreditar no que ela dizia, afinal não era isso que ele tanto queria? Salvar o Planeta. Ressabiados e vestidos os dois entraram na sala de jantar onde ele estava. Conseguiu, não sabe de onde, estender a mão ao Enviado e convidá-lo para conversar sobre as estratégias que usariam. O ET, com cara de galã de novela, se esquivou, argumentando que tinha uma reunião, com outros mensageiros. Voltaria outro dia. Acompanhou-o até a porta. Só aí percebeu que ainda tinha na mão esquerda as flores que comprara e estendeu-as para a mulher. Enquanto ela se refugiava no banheiro para rir escondido, um riso trêmulo de susto e alívio, ele começou a retirar a mesa e levar os pratos para a cozinha. Enquanto isso ia pensando: nunca mais farei serão.
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