AREEIRO PARTE IX

Normalmente. durante durante o 31 de dezembro, no Areeiro, a maior parte das famílias abrigava-se em casa para reverenciar a mudança de datas. O Cardápio de comidas era praticamente o mesmo, em relação ao Natal. O desejo manifesto por cada um, prendia-se à esperança por melhores dias, incluindo a satisfação de objetivos traçados, desde àqueles ligados a área profissional, quanto aos urgentemente ligados à superação de conflitos, doenças e outras questões de “fórum intimum".

Logo após a passagem de ano, costumava-se visitar e receber visitas mutuamente, principalmente entre vizinhos mais próximos. A expectativa de mudança gerada por um novo ano que já acontecera representava, dialeticamente motivos de preocupação e regozijos perenes na vida daquele povo. Razão pela qual, o ano novo que eclodira, seria tratado e festejado, ao menos de início, semelhantemente ao surgimento de um novo filho. Com toda pompa, obedecendo a cerimoniais já consagrados em sua evolução, desde o nascimento até o estágio final de amadurecimento. De tal sorte que, quando o relógio atingia a marca de: 00:00 h, as luzes elétricas apagavam geral e as pessoas buscavam o aconchego das demais, através de palavras alvissareiras, recheadas de abraços e apertos de mão solenes. Momento de defumar a casa, momento de disparar os fogos de artifício, em que pese, o choro de alguns e, paradoxalmente, o sorriso de outros. Inegavelmente, eram momentos sinceros, fraternos e de profunda emoção, despojados de quaisquer outras intenções, quer não fosse a de harmonizar-se com o mundo em redor.

No dia 06 de janeiro, costumava-se fazer reverência a festa de Santos Reis como extensão do Natal. Toda ornamentação das casas e ruas só seriam desfeitas após esta data, muito mais pelo reconhecimento à visita dos Reis Magos ao menino Jesus, ainda na Manjedoura. Eram eles: Melchior ou Belchior o mais velho, Gaspar o mais novo e Baltasar com idade média entre os dois. Os escritos atinentes a esse acontecimento ocorrem na Bíblia em Matheus, revelando que guiados por uma estrela, os Reis Magos identificaram o local em que o menino Jesus se encontrava e ofereceram-lhe “Ouro” em reconhecimento a realeza, “Incenso” a sua divindade e a “Mirra” representando simbolicamente a imortalidade. A Mirra era uma espécie de resina antisséptica usada para embalsamar os mortos. Ainda hoje, a troca de presentes que se realiza durante o dia do Natal é uma dádiva dos Reis Magos.

Cessadas as atividades Natalinas no Areeiro, o cenário normalmente era refeito, dentro de um clima impregnado de bastante respeito, aliado a preocupação substancial de nínguém ferir outrem. Todavia, detectava-se sem muito esforço a presença de condicionantes diferentes, acrescidos à conduta de vida de cada pessoa, dentre os quais destaca-se: "As perspectivas de futuro geradas pela introdução de um novo calendário na vida de cada um". O momento era de suprema esperança no sentido de se vivenciar novas realidades em função dos sonhos contidos nas mentes e iniciados ou ratificados por ocasião dos festejos natalinos.

Os mais jovens e crianças em férias escolares, agora ocupavam todo o espaço de tempo possível para vivenciarem as experiências ainda adormecidas pela exiguidade de tempo no cumprimento de outras tarefas, anteriores ao período de férias. Assim, além das brincadeiras tradicionais, buscavam o novo, o inusitado, algo que pudesse trazer-lhes uma maior amplitude de conhecimentos a serem absorvidos e repassados por ocasião da volta às aulas. Surgiram várias idéias, porém, a de maior impacto e aceitação foi a de explorar regiões ainda desconhecidas pela maioria. Assim, conheceu-se o rio Capibaribe de uma forma diferente da usual. Cortando a Mata São João e, consequentemente margeando uma determinada extensão de terra do município de São Lourenço da Mata. Outras explorações foram feitas ao Açude da Prata, nome atribuído a lenda de que Branca Dias, esposa de Diogo Fernandes, primeiro proprietário do Engenho Camaragibe, tenha lançado pratas em suas águas. Visitou-se também as Matas de Eucalipto e Azeitoneiras, ao Convento das Carmelitas, o Seminário Cristo Rei, a estação de Trem, a estrada da Volta ao Mundo, o Açude São Bento, conhecido popularmente como Balde, a casa Grande do Engenho Camaragibe ou casa de Maria Amazonas MacDowell, a construção de um Convento de Padres em Aldeia (...hoje FOP), através da ação do Arcebispo D. Hélder Câmara com apoio dos EUA, através de seu presidente, John Fritzgerald Kennedy, também católico e assassinado em 22 de novembro de 1963, sexta-feira, às 12.30h, quando circulava na praça Dealey em Dallas Texas...

Aqueles que acompanhavam partidas de futebol, quando o time do Areeiro não estivesse jogando, buscavam o campo do Centro Esportivo para assistirem aos jogos locais. Muitos tiveram a oportunidade de assistirem ao Ballet de Futebol promovido pelo time do Centro, com destaque para vários atletas, dentre os quais o Vavá Nero, filho da Educadora Maria Alice de Barros; Chico Honorato e Jota reversando-se no Gool, Amaral, Pedro Tacaca, Roberval, Arnaldo Pavão, Nezinho e outros que enchiam os olhos dos expectadores de emoção, sob o fundo musical e aos gritos de satisfação da torcida capitaneados pelo torcedor nota mil conhecido por Elias Sapateiro.

Vitória certa, baile à noite, na sede. Lá se encontravam moças e rapazes, além de senhoras acompanhadas de seus respectivos pares ,calculadamente bem vestidos e disponíveis a dançarem. Era noite de "gala" , principalmente àquelas em que se dava o aniversário do clube, ou logo após uma vitória diante do Guarany ou Penharol que também faziam parte do cenário esportivo de Camaragibe. Ainda durante os bailes, menção honrosa seja feita às figuras do professor Luís Nascimento e o Músico Instrumentista conhecido por sr. Tena, considerados verdadeiros pés de ouro na arte de dançar. Era de fazer a menina dos olhos gozar de prazer aos vê-los dançando; O tratamento destinado à dama, os passos, as evoluções e o desfecho final. Por serem menores de idade, alguns garotos do Areeiro comprimiam-se do lado de fora, nas janelas do clube, para assisterem ao espetáculo.

Entretanto, aos shows da "Jovem Guarda" na televisão exibidos aos domingos, à franquia ao Clube era garantida. Sob a orientação do sr. Antonio Germano, todos eram obrigados a rezar um " Pai Nosso " e em seguida, sentavam-se de forma ordeira e sem muita conversa para assistirem ao programa. O bonito de tudo é que o sr. Antonio era veementemente contra a qualquer tipo de bagunça. O indivíduo teria que assistir ao show, calado sob pena de ser posto sumariamente para fora do recinto. Além disso era ele o responsável pela disciplina da excelente Escolinha do Prof. Luís, que funcionava ali mesmo. Na época, escreveu não leu o pau comeu, ou seja, ou o aluno decorava a taboada, ou a palmatória cumpriria sua função. Claro que essa não seria tarefa do sr. Antonio que se preocupava em formar fileiras para a entrada do aluno, quase sempre ensinando a cantar o Hino do Brasil, ensinando a orar e durante o recreio evitando balbúrdia.

Sr. Antonio Germano, também ajudava na Igreja Pio X, durante a celebração das missas. Fazia parte do Canto Coral e dos filhos de Maria. Foi funcionário Público pela Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco, tendo sido lotado na Escola Estadual Frei Caneca. Morou no Areeiro e pela sua contribuição à Educação, foi premiado com a medalha de "Honra ao Mérito" pela Câmara de Vereadores.

Paullo Carneiro
Enviado por Paullo Carneiro em 04/03/2012
Reeditado em 06/03/2012
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