Rodak - não tenho nada a perder!

Era um final de tarde, e Rodak havia encostado a sua carroça, que estava em nome de um terceiro, como era comum as coisas em sua vida, e encontrou próximo ao seu barraco Riacho, um ambulante conhecido na região.

Rodak ao ver Riacho, seu antigo conhecido, resolveu abrir o coração e desabafar um pouco, colocar as suas frustrações para fora, pois não tinha outras experiências para contar.

Riacho que gostava de uma boa conversava fiada, fez de bonzinho e resolvou ouvir a ladainha de Rodak.

Ao perceber o interesse de Riacho, Rodak começou a dizer que já havia vivido bastante, que não tinha mais nada a perder, se é que algum dia teve alguma coisa, que a pipa não levantava mais, e que estava afim mesmo era de arrumar para a cabeça de Zeca Urubu.

Além disso, Rodak ainda aproveitou para contar umas outras estórias tristes, falando um pouco de seus agregados que não estavam indo muito bem, e que na mente doentia de Rodak estariam sendo prejudicados com o dia-a-dia ali na localidade.

Riacho a tudo ouvia, mas no fundo estava achando Rodak meio caquético, doido, passado, e não estava entendendo muito bem aquela verborragia de Rodak.

Na verdade, Riacho que já estava na região há muito tempo, sabia que Rodak não tinha nada mesmo a perder, pois atualmente não tinha nada em seu nome, vivia de favores de seus agregados e terceiros, e não tinha conseguido nem mesmo um emprego descente.

Segundo as más línguas Rodak não podia ter nada em seu nome devido as falcatruas que tinha praticado na praça, que não eram poucas, e que se pusesse algo em seu nome os credores com certeza iriam correr atrás do prejuízo.

Na região, ninguém levava a sério Rodak, e talvez essa realidade tenha pirado a cabeça do figurinha, que apesar das palavras, não tenho nada a perder, não queria facilitar e acelerar a sua transição para o outro plano.

Aquele discurso de Rodak estava causando tédio, para se dizer o menos, e Riacho que também era chegado em uma boa falcatrua resolveu deixar o conhecido e seguir caminho.

Ao perceber que estava sozinho, Rodak saiu resmungando e pensando em sua vidinha, que alías não era boa mesmo, pois Rodak não fazia uma viagem, não conhecia outros lugares e aos poucos estava percebendo que a sua caminhada já estava mais para o destino final do que para um novo recomeço.

Assim, cada qual, Rodak e Riacho seguiram o seu caminho, deixando apenas rastros com pegadas enlameadas, os quais os mais virtuosos não faziam questão de seguir.

Enquanto isso, Zeca Urubu a tudo observava e dava boas, mas muito boas, risadas de Rodak, que estava parecendo mais um piradão, um babão, do que qualquer outra coisa.

Por fim, Zeca ainda pensou, onde poderia arrumar uma diversão tão barata sem o palhaço do Rodak, e chegou a conclusão que dificilmente em outro lugar conseguiria achar pão e circo.

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