Explicando...
Ela sempre fazia ouvidos de mercador quando estendia suas mercadorias em cima das cobertas de tear, no gramado em frente da casa.Já lhe doía vender seus bordados, vender sua história, expô-la em público através de sua arte. Recusava-se a comentá-los, a ouvir o que falavam sobre eles, responder qualquer pergunta.
Uma tabuleta rústica chamava a atenção para eles: Bordados da Alma. Não havia quem não parasse para vê-los, muitos já vinham, no dia do Jubileu, expressamente para comprá-los. Fora aqueles que lhe eram encomendados e nunca eram expostos, ficavam guardados dentro de casa, esperando pelos donos das encomendas.
Fora um ano rico em acontecimentos e esses acontecimentos estavam ali bordados em suas peças. Nos jogos de cama, toalhas de mesa ela bordara as flores que cresciam despudoradamente em seu jardim, nos jardins das outras casas, que cuidava, pelos campos. Bordara a velha lata amarela, ora cheia de flores, ora enfeitando os jogos de cozinha e, nos jogos de cozinha seus vidros de geléias e compotas que ali ela também vendia. As pessoas diziam: quero esses panos de prato lindos e os vidrinhos que serviram de modelo. Os cães também eram motivos que se multiplicavam, abelhas e pássaros, a árvore da pedra, os frutos com os quais trabalhava. E lanternas, sempre muitas lanternas, todas acesas...
Um dia ouviu alguém perguntando: Ela é surda? – Oh, não, ela só finge, respondeu uma veterana de outros jubileus, que já fizera dois enxovais para as filhas com ela e agora iniciava o terceiro. E frente ao espanto da outra continuou: Ela guarda um segredo que está revelado em seus bordados e por isso finge ter ouvidos moucos para não ter que falar sobre ele. Não, ela não tinha nenhum segredo, sua vida estava ali, todinha escancarada nos bordados. Quem quisesse poderia decifrá-la só não podiam mesmo era obrigá-la a falar sobre ele.
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Ouvidos Moucos
Saiba mais, conheça os outros textos:
http://encantodasletras.50webs.com/ouvidosmoucos.htm
Ela sempre fazia ouvidos de mercador quando estendia suas mercadorias em cima das cobertas de tear, no gramado em frente da casa.Já lhe doía vender seus bordados, vender sua história, expô-la em público através de sua arte. Recusava-se a comentá-los, a ouvir o que falavam sobre eles, responder qualquer pergunta.
Uma tabuleta rústica chamava a atenção para eles: Bordados da Alma. Não havia quem não parasse para vê-los, muitos já vinham, no dia do Jubileu, expressamente para comprá-los. Fora aqueles que lhe eram encomendados e nunca eram expostos, ficavam guardados dentro de casa, esperando pelos donos das encomendas.
Fora um ano rico em acontecimentos e esses acontecimentos estavam ali bordados em suas peças. Nos jogos de cama, toalhas de mesa ela bordara as flores que cresciam despudoradamente em seu jardim, nos jardins das outras casas, que cuidava, pelos campos. Bordara a velha lata amarela, ora cheia de flores, ora enfeitando os jogos de cozinha e, nos jogos de cozinha seus vidros de geléias e compotas que ali ela também vendia. As pessoas diziam: quero esses panos de prato lindos e os vidrinhos que serviram de modelo. Os cães também eram motivos que se multiplicavam, abelhas e pássaros, a árvore da pedra, os frutos com os quais trabalhava. E lanternas, sempre muitas lanternas, todas acesas...
Um dia ouviu alguém perguntando: Ela é surda? – Oh, não, ela só finge, respondeu uma veterana de outros jubileus, que já fizera dois enxovais para as filhas com ela e agora iniciava o terceiro. E frente ao espanto da outra continuou: Ela guarda um segredo que está revelado em seus bordados e por isso finge ter ouvidos moucos para não ter que falar sobre ele. Não, ela não tinha nenhum segredo, sua vida estava ali, todinha escancarada nos bordados. Quem quisesse poderia decifrá-la só não podiam mesmo era obrigá-la a falar sobre ele.
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Ouvidos Moucos
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