Aquela Máscara (EC)
 
 
Por mais que eu tente não consigo fugir dela: aquela música. Eu a ouço mesmo quando ninguém a executa, eu a canto mesmo calada, todo o meu corpo vibra seguindo o seu ritmo e vejo seu corpo dançando em direção ao meu, como naquelas noites em que a chuva era de confetes e serpentinas. Eu a ouço com muito mais clareza nas noites silenciosas em que caminho sozinha pelas ruas desertas dessa cidade abandonada onde nunca houve um baile de carnaval. Como esquecer aquelas noites mágicas quando eu ainda acreditava que os sonhos eram possíveis e que o amor romântico era a coroação de tudo? Sonhos são apenas sonhos e ainda devemos abençoar o não se transformarem em pesadelos. Agradecer por existirem como belas lembranças que foram reais por algum tempo e acabaram como folhas secas guardadas entre as páginas de um livro das quais não restam nem mesmo as cores e o perfume. Só a lembrança. Foi nisso que aquela música se transformou, uma folha seca colocada entre as páginas do único livro que leio diariamente – o livro de minhas memórias. É ali que guardo a máscara negra que usei em nosso carnaval, a máscara que escondia o meu rosto, mas não impediu que me encontrasse. Hoje a vida continua, sem riso ou alegria e até os palhaços desapareceram e mesmo a saudade só se manifesta de forma suave como uma música que segue os meus passos aonde vou. Trilha sonora de um filme animado cujas melhores cenas se passam em um salão de baile onde as máscaras procuram se encontrar. Sem máscaras.
 
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Aquela Música
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