Promessas são palavras vazias...
Ela desdobrou a carta tantas vezes relida. As dobras estavam firmes, se descuidasse um pouco poderia partir a carta em quatro partes, sem nenhum esforço, sem precisar de tesouras para cortar. Leu outra vez as palavras antigas em letra desbotada pelo tempo e pelas lágrimas. Leu sem mesmo fixar o olhar na carta, nas letras. Sabia de cor. De cor e salteado, como costumava dizer a professora que lhe perguntava: Decorou o poema? E então ela o declamava de frente para trás e de trás para frente, de qualquer jeito que lhe desse na telha.
Eu prometo, dizia a carta. Começava assim e assim terminava. Eu prometo fazer isso e aquilo. Prometo não lhe esquecer, prometo voltar, prometo escrever todos os dias em que estivermos separados. Eu prometo, repetia ela em pensamento, segurando a única carta que dele recebera.
Pensou no vazio e na banalidade das promessas . E antes de levar a carta até a chama da vela que brilhava na noite buscou dentro da gaveta um pedaço de papel e escreveu com letras firmes:
Eu Prometo...
...nunca mais prometer o que não posso ou não quero cumprir. Promessas na maioria das vezes são palavras vazias que a gente diz tentando se convencer de alguma coisa. Mais se convencer até do que convencer a alguém. Não quero mais isso para a minha vida – viver de promessas, sejam as minhas para mim mesma, sejam as minhas para alguém, sejam as promessas que me fizeram e nunca foram cumpridas. Quando realmente queremos alguma coisa simplesmente a fazemos sem necessidade de compromissos morais ou simplesmente orais. Não, eu não prometo nada, mas nada mesmo. Não, prometo nem mesmo viver até o fim do dia, recomeçar o que acabou, mudar o estabelecido. Viver, é só isso o que quero. E a cada minuto fazer o que é preciso ser feito, o que é possível.
Quando acabou de escrever dobrou o fino papel e o colocou dentro do livro que lia. Depois, queimou a carta tanto tempo guardada. Viu as cinzas cairem no pires de louça que sustentava a vela. Depois, carregando o Pires, a vela e as cinzas, saiu para a noite e caminhou em direção as margens do pequeno riacho.
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Eu Prometo
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