A CARA AMASSADA = EC
Rápidas palavras trocadas no elevador, um encontro casual no hall de entrada, os novos vizinhos, Paulo e Rita acabaram por tornarem-se grandes amigos de Helena e Arnaldo.
Alegre e extrovertida, Rita era muito simpática e Helena gostou muito dela des-de que se conheceram.
Visitavam-se freqüentemente, iam juntas às compras, conversavam muito, troca-vam receitas e idéias.
Arnaldo e Paulo se deram muito bem e os quatro começaram a fazer programas juntos, um almoço fora, um joguinho de baralho, uma tarde de bate papo na casa de um ou de outro..
Quando “aquilo” começou?
Helena não sabia precisar quando, como, nem porque ela começou a desconfiar que a Rita estava insinuando-se para o Arnaldo!
Relutou à idéia. Não podia ser! Eram tão amigos! Rita era diferente dela, mais expansiva, mais brincalhona, mais liberal, mas dai a trair o próprio marido com o mari-do da melhor amiga..... era demais ... não podia ser ...
Mas o ciúme, tal como um indesejável penetra, invadiu-lhe a mente e ela pi-lhou-se a analisar cada palavra, cada atitude dos dois.
A cada dia que passava, mais evidente se tornava o assédio e, o que era pior, começou a achar que o marido estava mudado, meio estranho, diferente ...
Quando foram passar, os quatro, um fim de semana prolongado em uma praia, ela não teve mais dúvidas.
A casa pequena, a falta de privacidade absoluta facilitaram as coisas e ela, por várias vezes encontrou-os em atitudes meio comprometedoras.
Paulo parecia não perceber nada e ela se segurou para não fazer escândalo, pro-vocar uma situação constrangedora para todos.
Decidiu, porém que ia por gelo naquela amizade assim que voltassem para casa.
Alguns dias depois Arnaldo comunicou a Helena que ia fazer um curso de espe-ranto a noite.
- Esperanto ?! Por que isso?
- Ora, o esperanto é a língua do futuro. É muito interessante. Todos deviam co-nhecê-la..
Tudo isso soou muito falso para Helena e ela não teve mais dúvidas. Arnaldo e Rita iam encontrar-se por conta do tal curso de esperanto, mas, ardilosa, não disse nada e aguardou.
Quando Arnaldo saiu dizendo que ia para a aula, ela demonstrou a maior sereni-dade deste mundo.
Assim que ele saiu, porém, foi a janela e viu que ele foi com o carro muito de-vagar e parou na esquina.
Logo após o carro da Rita saiu.
Ela, então, pegou o seu próprio carro e saiu no encalço dos dois.
.
Alcançou-nos numa avenida próxima e, mantendo distância, seguiu-os e viu quando pararam em frente a um motel.
Nem sequer souberam disfarçar, os dois idiotas ! Deixaram os carros estaciona-dos bem na frente o que facilitou o plano de Helena.
Voltou rapidamente, ligou para o Paulo e, disfarçando a voz, disse-lhe que sua esposa havia sofrido um acidente e pedira para chamá-lo. Deu o endereço e correu para a janela a tempo de ver o Paulo sair a toda com o carro.
Agora era só esperar. Será que ia dar certo?
Estava aflita. Não conseguia controlar a ansiedade, mas tinha que fazer uma ca-rinha de inocente para quando Arnaldo chegasse.
Depois de “um século” ele entrou e, quando ela olhou para ele, até assustou-se.
Seu rosto estava todo machucado, seu olho estava roxo e escorria sangue do seu nariz.
Assustada, perguntou:
- Que aconteceu, querido?
- Levei um tombo ... Bati o rosto numa pedra ...
Sem maiores explicações enfiou-se no banheiro e de lá foi direto para a cama sem qualquer comentário a mais.
Helena saboreou em silêncio a sua vitória.
Nos dias seguintes Arnaldo teve que repetir a estória do “tombo” para quantos encontrou e assustados perguntaram:
- Que aconteceu com você? Que horror!
E os vizinhos desapareceram sem deixar rastro. Nunca mais souberam deles.
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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Não É o Que Parece
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