REALIDADE

De repente um tiro.

Medo.

Dor.

Cai.

“Não era para ser assim” pensa.

A dor aumenta, não consegue se mover.

Escuridão.

Imagens do passado vêm à sua mente.

Seu pai.

Sua mãe.

“Eu não posso deixar mamãe sozinha, não posso”.

Tenta novamente se mover... Em vão.

As imagens ficam mais nítidas.

Seu pai é assassinado por um policial inexperiente que o confundiu com um traficante.

Ele está só.

Precisa cuidar de sua mãe... Prometera ao pai.

Ele só tem doze anos.

Larga a escola. Vai trabalhar como engraxate. Não ganha muito, mas dá para se virar.

Novamente a escuridão.

Silêncio.

Mais imagens.

Agora está com dezesseis anos.

Procura emprego. As coisas estão mais difíceis.

Discriminação.

Cor: negra

Endereço: favela

Pai: morto, assassinado.

Grau de escolaridade: quinta série.

Sem estudo a coisa se complica.

Sua mãe é lavadeira de roupas, mas o serviço é pouco.

Ele se esforça fazendo bicos.

De repente um tiro.

Sua mãe no chão.

Gritos.

Gritos.

Choro.

Uma bala acerta a coluna de sua mãe. Ela fica paraplégica.

Sem dinheiro.

Desempregado.

Ele chora.

Desesperado pede ajuda.

Um traficante da área o ajuda.

Paga todo o tratamento de sua mãe.

De repente Gritos.

Tiros.

Revólver na mão.

Polícia no chão.

Ódio.

Revolta

Tiros.

Morte.

Ele tem dezoito anos.

Festa.

Alegria.

Agora, ele é o chefe.

É temido por todos, policiais, traficantes.

Imagens confusas.

Bela casa.

Sua mãe pede para largar tudo.

“Não posso” responde.

Ele vai embora.

Sua mãe, triste, chora, pois sente o início do fim.

De repente um tiro.

Confusão.

Medo.

Dor.

Escuridão.

Luz.

Paz.

Marc Souz
Enviado por Marc Souz em 24/08/2006
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