Conte-me um conto - Sempre lado a lado - EC

A imagem se repetia todos os dias. Chuva ou sol, Hachi  continuava no mesmo lugar. Quem já o conhecia, sabia porque estava ali.

Jornaleiro, pipoqueiro, bilheteiro. Muitos já haviam tentado explicar que sua espera era inútil, mas ele parecia não entender uma palavra do que diziam ou não se importava. Continuava impassível, com o olhar fixo e o corpo imóvel. 

Algumas vezes , quando na confusão da plataforma alguém vagamente semelhante parecia surgir entre as cabeças que se confundiam, ele esticava o pescoço mas logo a expectativa se dissipava com os últimos passageiros que passavam. Alguns o olhavam e poucos até esboçavam um gesto de compaixão, a maioria seguia indiferente. Ele mantinha a determinação da espera.

Tudo havia começado de surpresa, um acaso, uma atenção, um carinho, e que ele, fidelíssimo, imaginou ser amor para sempre. Foram morar na mesma casa, fizeram muitos programas juntos, divertiram-se.

Todos os dias iam lado a lado até a estação. Sempre no mesmo horário, lá estava ele esperando pela volta e a retomada de sua vida, que só fazia sentido quando estavam juntos.

Um dia, todos desceram mas ninguém veio ao seu encontro. Ele não se conformou. Continuaria voltando lá e
esperando, pelo tempo que fosse necessário.

Hachi, que tinha esse apelido devido a um resfriado crônico, confiava: mais dia, menos dia, o cachorro do Ricardão e a cadela da Esmeralda desceriam e ele os deixaria para sempre lado a lado, no chão da plataforma...

(vaga e descaradamente inspirado, caso não tenham notado por minha absoluta falta de sutileza, no filme "Sempre ao Seu Lado", que não assistiria por nenhum dinheiro desse mundo - quem já teve o "grã-fino"e ainda  tem os Branquinhos, as Filós e os Billys da vida, sabe porque.
A Lucia diz que vai, e que nada tem a ver com o Richard Gere. Sei não...).

Este texto faz parte do Exercício Criativo - Conte-me um conto.
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Rosso
Enviado por Rosso em 08/01/2010
Reeditado em 12/06/2011
Código do texto: T2017924
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