Vende-se uma aliança - Cap. I

Amor: 1 forte feição por outra pessoa, nascida de laços de consanguidade ou de relações sociais. 2 atração baseada no desejo sexual.

Raiva: 1 doença infecciosa aguda causada por um vírus da fam. dos rabdovírus, transmitida ao homem pela mordida de animais infectados (cão, gato, lobo, etc). 2 sentimento de fúria, cólera, ira.

“Processando”

A mensagem na máquina de cartão de crédito mostrava que tudo estava correndo bem.

“Ich! Ta te processando. Melhor chamar um advogado”

Sempre a mesma piada. O dono da loja era um senhor simpático até, parecido com aqueles senhores que tem os netos longe de casa e qualquer ser que seja parecido com algum, ele o trata como se fosse o tal. Forcei um riso amarelo e peguei o comprovante e o embrulho. Uma aliança. De prata. E de prata de lei ainda.

Ela estava me enchendo o saco por uma daquelas. “Olha amor essa daqui. Linda! Amor… ei” Eu nunca prestava atenção no que ela estava dizendo. Olhei pra maldita, melhor, olhei para o preço. É sempre assim, meus amigos diziam que mulher adora dinheiro, mais do que o próprio namorado.

– Que acha dessa?

– Horrível. Quero aquela ali com uma listra preta no meio.

– Mas ela custa R$ 40,00. Vamos ficar com essa. R$ 20,00 o par.

– Não!

Difícil, muito difícil. Eu quem trabalhei. É para mim que o dinheiro tem que vir. Mas lá no fundo eu queria comprar uma aliança. Nem que fosse para mostrar para a ex que tinha encontrado coisa melhor.

Comprar aliança exige um certo Q de inteligência, do qual eu não possuía. Deveras, pois nunca tinha comprado uma. Nem ao menos eu sabia que alianças tinham números, assim como nossos pés. Chutei lá um valor e levei. Se ficar grande eu troco.

Mostrei com orgulho ao meu pai, minha mãe e ao meu irmão. Meu pai me chamou de garotão (“é isso aí, garotão”), meu irmão fez de conta que não viu, e minha mãe… bem:

“Vai se algemar é? Eu que sempre tratei você nunca ganhei nem um vaso de flor se quer, e agora você me compra essas algemas”

“Ganhou sim!”

Tudo bem. Foi há uns cinco anos atrás, flores de plástico, disso ela não pode reclamar, com o dinheiro do meu pai. Mas ganhou.

“Você está com ciúmes.”

“Ciúmes? Veja se eu tenho cara de ter ciúmes”?

A noite eu só pude ouvir ela conversando com pai na cama, dizendo a ele que eu nem olhava mais para ela.

Mas enfim, com aprovação ou não, fosse de quem fosse, quarenta reais da minha grana já tinham ido parar naquela alge… digo, naquela aliança, e de lá iria pararia no dedo dela. Pelo menos foi isso que eu pensei que aconteceria.

(continua…)

Eduardo Costta
Enviado por Eduardo Costta em 24/12/2009
Código do texto: T1993348
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