Jacob - O Início

Gritos altos o despertaram, ele que estava acostumado com o barulho de sua mãe safistazendo seus clientes. Ela não estava brincando, ela estava realmente pedindo ajuda. Sem entender o garoto se escondeu debaixo da cama. De repente a porta se abriu estourando o trinco e um vulto surgiu jogando sua mãe com o nariz e a boca sangrando sobre sua cama. O menino quase gritou, porém sabia que se o descobrissem tudo estaria perdido. Ela gritava enquanto ele a esmurrava incessantemente até ela se calar. O homem então a puxou pelo cabelo e ela caiu no chão como uma boneca. Com desprezo ele jogou as notas sobre o corpo, a chutou mais algumas vezes e se foi, caminhando devagar, assoviando.

Tremendo, com o pijama molhado de urina, ele tentava sair de sua toca, mas estava assustado demais. Uma voz suave lhe dizia para não ter medo, pois ele não estava sozinho e o menino sentiu então como se algo estivesse ali com ele no escuro. Aquela sensação o fez fugir e em sua mente de criança ele podia jurar que alguma coisa tentara puxá-lo de volta.

Os olhos sem vida de sua mãe pareciam lhe seguir como a sensação de certos quadros quando passamos por eles. Se não fosse isso, ele a teria tocado, ela estava nua, linda, e ele gostava de vê-la assim. Ela costumava espancá-lo caso suspeitasse que ele a espionava no banheiro. Mal sabia ela que ele se entregava por querer, a punição lhe dava prazer. Era o máximo de contato que o menino conseguia de sua mãe. Ela odiava tanto os homens que seus acessos de raiva eram a única ligação mais íntima que ela podia lhe oferecer.

Ele saiu engatinhando e foi para a sala, havia um carro parado do lado de fora. O homem fumava encostado no carro. O coração do garoto disparou e uma voz o lembrou da arma no quarto da sua mãe. Ele sabia onde ela guardava a chave e brincava com o revólver quando ela não estava em casa.

Com todo cuidado entrou no quarto e viu a cama desarrumada, sentiu o cheiro de cigarro e sexo no ar. Achou graça da náusea que aquilo provocava no seu estômago. Pegou a arma na caixa dentro do guarda-roupa e voltou para a sala. Era como se alguém guiasse suas mãos. Fechou os olhos e apertou o gatilho.

Imediatamente após o disparo suas mãos deixaram a arma cair no chão. Não havia mais ninguém no lado de fora, apenas o vidro estilhaçado. Ligou a TV, sentou-se no sofá. Dormiu tranquilo assistindo desenhos. Pela manhã, quando entraram na casa, encontraram o garotinho babando no sofá em frente a TV fora do ar.

Ao acordar e se deparar rodeado de estranhos, ele pediu para falar com um padre. Queria se confessar, sua mãe lhe havia ensinado que quando fizesse algo que achasse que era ruim ele deveria pedir perdão a Deus. Ela ia sempre se confessar e o levava junto. Os padres eram os únicos homens em quem ela confiava.

Depois de contar ao seu modo infantil o que tinha acontecido o sacerdote comovido disse ao menino que a voz que ele ouvira era do seu anjo protetor e que ele sempre poderia confiar nela. Ele não havia feito nada de errado e Deus não estava zangado com ele. Allan sorriu e a voz disse:

_É isso mesmo Jacob, você pode confiar sempre em mim. Eu nunca vou te deixar sozinho.

A companhia do anjo o confortava, Allan riu-se por dentro pelo anjo lhe chamar de Jacob. E sem perceber uma semente se abriu nas profundezas de sua alma como um parasita ávido para devorar sua inocência.

José Rodolfo Klimek Depetris Machado
Enviado por José Rodolfo Klimek Depetris Machado em 09/12/2009
Reeditado em 05/05/2011
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